Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
Com o regresso do casal ao campo, diz-nos Maria que, rapidamente, tiveram <strong>de</strong> mudar<br />
<strong>de</strong> monte, <strong>de</strong>vido às exigências profissionais do marido, o que justifica a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma<br />
nova etapa na sua trajetória, como se po<strong>de</strong> verificar <strong>de</strong> seguida.<br />
2.2.3. ETAPA 3 do Momento 2 (1962-2005): Deslocações geográficas da<br />
família e realização das tarefas domésticas<br />
Ora, se já com os pais as <strong>de</strong>slocações geográficas eram frequentes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> casada<br />
não foi exceção: a primeira mudança <strong>de</strong> monte, pela família, ocorreu passado pouco t<strong>em</strong>po<br />
<strong>em</strong> 1962, sensivelmente. Ela adiantou-nos no seu relato que as condições habitacionais não<br />
eram favoráveis, pois nesse monte não havia água canalizada, o que fazia com que tivesse <strong>de</strong><br />
adoptar estratégias para conseguir, por ex<strong>em</strong>plo, lavar a roupa. Assim sendo, Maria revelou-<br />
nos que, enquanto a filha era muito pequena, utilizava um bidão gran<strong>de</strong> cheio <strong>de</strong> água para<br />
lavar a roupa; com o passar do t<strong>em</strong>po e crescimento da filha, ia ela lavar a um poço, levando<br />
consigo a filha, pois tinha-a s<strong>em</strong>pre sob o seu cuidado (pág.3 e 4). No regresso a casa, Maria<br />
levava a roupa “ (…) à cabeça e a miúda nos braços.” (pág.4). Ainda segundo ela, ao chegar<br />
a casa, tinha s<strong>em</strong>pre muito que fazer: “ (…) <strong>de</strong>itava a miúda (…) no berço, ia a esten<strong>de</strong>r a<br />
roupa, tratar da comidinha, p`ra quando viesse o meu marido (…).” (pág.4). É curioso que,<br />
muito <strong>em</strong>bora as condições no monte n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foss<strong>em</strong> as mais favoráveis, Maria referiu<br />
que, aquando do seu casamento, passou a po<strong>de</strong>r dormir numa cama <strong>de</strong> ferro, o que nunca<br />
havia acontecido no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que era solteira. Repare-se que, enquanto jov<strong>em</strong> a narradora<br />
dormia <strong>em</strong> cama improvisada a qual, segundo nos disse, era feita com tábuas, para que não<br />
dormisse diretamente no chão (pág.14).<br />
Ainda neste contexto, <strong>em</strong> 1970 o casal t<strong>em</strong>, mais uma vez, <strong>de</strong> mudar <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> e<br />
foram para Barrancos. Ao recordar esses t<strong>em</strong>pos, a narradora afirma que os seus dias eram<br />
passados a cuidar <strong>de</strong> gado com o marido, esclarece-nos sobre as tarefas que realizava: “ (…)<br />
dar comer às vacas (…) à tar<strong>de</strong> trazíamos as vacas p`ra uma cabana (…) limpava as<br />
cabanas (…) era a nossa labuta assim toda (…).” (pág.6). Cuidar do gado não era um<br />
trabalho fácil pois, como nos informou, Maria só chegava a casa às 22:30h – 23:00h da noite<br />
e, ao chegar a casa ainda tinha <strong>de</strong> fazer o jantar, comer e <strong>de</strong>pois era <strong>de</strong>scansar um pouco, para<br />
conseguir levantar cedo no dia seguinte, isto porque: “ (…) <strong>de</strong> manhã às cinco da manhã já<br />
`távamos a pé outra vez, p`ra tratarmos dos bichos outra vez.” (pág.18). Para além <strong>de</strong> ter <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>itar comer ao gado, a narradora rel<strong>em</strong>brou que haviam dias <strong>em</strong> que tinha <strong>de</strong> “ (…)<br />
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