Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
Ora, indo a narradora <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo para o campo, para sua infelicida<strong>de</strong>, Maria<br />
não po<strong>de</strong> estudar, como se percebe na etapa seguinte.<br />
2.1.2. ETAPA 2 do Momento 1 (1933-1944): Impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar –<br />
início do trabalho<br />
Foi com alguma tristeza no discurso que Maria referiu nunca ter frequentado a escola,<br />
ao sublinhar: “ (…) não sei uma letra (…) é o maior <strong>de</strong>sgosto que tenho (…) só fui à escola<br />
<strong>de</strong>pois da minha filha `tar na escola, falar com as professoras (…).” (pág.9). Como afirma a<br />
narradora, toda a sua trajectória <strong>de</strong> vida foi passada no campo, enquanto criança ajudando o<br />
pai no cuidado com os animais e, mais tar<strong>de</strong>, a “ (…) trabalhar (…) à monda, à azeitona, à<br />
ceifa, trabalhei imenso (…)” (pág.9), até mesmo na vindima (pág.15).<br />
Uma vez que o seu pai cuidava <strong>de</strong> gado, Maria e a sua família tiveram <strong>de</strong> mudar<br />
algumas vezes <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, conforme lhes era exigido, ela teve, inclusive, <strong>de</strong> namorar à<br />
distância, <strong>de</strong>vido a uma <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>slocações – pelo que como se compreen<strong>de</strong> na etapa que se<br />
segue.<br />
2.1.3. ETAPA 3 do Momento 1 (1944-1959): Deslocações geográficas da<br />
família e início do namoro<br />
Maria diz-nos que a profissão do pai não permitia gran<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> geográfica à<br />
família, daí que, <strong>em</strong> 1944, tendo ela 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, a família se tenha mudado para outra<br />
proprieda<strong>de</strong>. Nessa nova proprieda<strong>de</strong>, o trabalho realizado pelo pai continuava a ser cuidar do<br />
gado; <strong>de</strong>sta feita, a narradora continuava a ajudá-lo, sentindo-se muitas vezes envergonhada<br />
<strong>de</strong> ser vista por alguns jovens rapazes, a guardar porcos, naquela ida<strong>de</strong> e, porque, já<br />
namorava (pag.2).<br />
A este respeito, Maria fez-nos saber que namorou durante 8 anos, com um rapaz que<br />
era lavrador e gana<strong>de</strong>iro no campo, <strong>em</strong>bora reconheça ter tido outros rapazes interessados <strong>em</strong><br />
namorá-la, consi<strong>de</strong>ra que foi o marido qu<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>monstrou gostar <strong>de</strong> si: “ (…) começamos<br />
a gostar um do outro (…) ele não <strong>de</strong>ixava e nã queria que ninguém andasse lá atrás <strong>de</strong> mim<br />
(…) gostava muito <strong>de</strong> mim. (…) havia outros rapazes que me queriam (…) ele quando saia<br />
do trabalho, corria logo atrás <strong>de</strong> mim (…) era uma coisa puro <strong>de</strong> mais.” (pág.12).<br />
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