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Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

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Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

comprava consoante o valor que dispunha, quando chegava ao fim do mês, optava por gastar<br />

tudo o que tinha na dispensa até que o marido voltasse a receber novo or<strong>de</strong>nado. No<br />

seguimento dos gastos com alimentação, havia outro envelope que Maria <strong>de</strong>nominava como<br />

envelope das sobras, neste colocava o dinheiro que sobrava da alimentação, tal como explica:<br />

“ se sobrass<strong>em</strong> cinco escudos, ou se sobrass<strong>em</strong> oito, iam p`ras sobras (…) ” (pág.39), sendo<br />

certo que esse dinheiro era utilizado, posteriormente, para comprar as prendas <strong>de</strong> aniversário<br />

das filhas, para as prendas <strong>de</strong> natal ou, caso surgisse uma <strong>de</strong>spesa inesperada, era àquele<br />

envelope que Maria recorria (pág.39). E, por fim, o envelope das <strong>de</strong>spesas que englobava as<br />

contas da água, da luz, da eletricida<strong>de</strong>, do gás e, ainda, da renda da casa. Maria admite ter<br />

sido s<strong>em</strong>pre uma boa gestora pois, tal como sublinha: “ (…) nunca me faltou dinheiro p`ra<br />

pagar nada, nunca tive probl<strong>em</strong>as p`ra pagar as minhas contas.” (pág.38). Assim como<br />

assume: “ (…) fui uma boa contabilista (…) nunca gastei o dinheiro mal gasto ao meu<br />

marido (…).” (pág.41). É interessante perceber também que esta foi uma aprendizag<strong>em</strong> sua<br />

pois, tal como nos relatou, a gestão feita pela mãe <strong>de</strong> Maria <strong>em</strong> casa dos pais era diferente: “<br />

(…) a minha mãe tinha dificulda<strong>de</strong>s (…) o meu pai gastava muito dinheiro (…) a minha mãe<br />

coitada, ela fazia uma economia pior que a minha (…)” (pág.39). Quando o marido <strong>de</strong> Maria<br />

se reformou, passou ele a ir ao mercado; <strong>de</strong>sta feita, a gestão sofreu alterações pois, segundo<br />

nos relatou, o marido não olhava aos preços, para ele o fundamental era a qualida<strong>de</strong> e, tal<br />

como se compreen<strong>de</strong> pelo discurso <strong>de</strong> Maria, esta mudança <strong>de</strong> gestão não lhe agradava, até<br />

porque, assim, o marido gastava muito mais: “ (…) custou-me, não gostava <strong>de</strong>ssa maneira <strong>de</strong><br />

gerir o dinheiro, gostava mais como eu fazia (…).” (pág.41). A narradora teve s<strong>em</strong>pre a<br />

preocupação <strong>de</strong> comprar barato, tendo s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> atenção a qualida<strong>de</strong> do que comprava.<br />

Sabe-se que, quando ia ao mercado, tinha o cuidado <strong>de</strong> separar os produtos por duas cestas,<br />

numa arrumava o peixe e, noutra, as frutas para que não se estragass<strong>em</strong> (pág.24). No<br />

presente, Maria reconhece não po<strong>de</strong>r gerir o seu dinheiro como geria antigamente, porque no<br />

seu quotidiano t<strong>em</strong> muitas <strong>de</strong>spesas, uma vez que, precisa diariamente, precisa <strong>de</strong> pagar para<br />

que alguém lhe trate da higiene pessoal, da alimentação, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> vesti-la e <strong>de</strong>spi-la, <strong>de</strong><br />

manhã e à noite antes <strong>de</strong> dormir, como refere a mesma: “ (…) isso tudo t<strong>em</strong> que ser a pagar<br />

(…).” (pág.40). Consi<strong>de</strong>ra ainda que, hoje, as mulheres domésticas já não ger<strong>em</strong> o orçamento<br />

familiar <strong>de</strong>sta forma: “ (…) com este método <strong>de</strong> pôr um x p`ra isto, um x p`raquilo, acho que<br />

não (…).” (pág.41). Para além <strong>de</strong> reconhecer ter sido uma boa gestora do orçamento familiar,<br />

Maria também consi<strong>de</strong>ra ter orientado muito b<strong>em</strong> toda a casa e necessida<strong>de</strong>s das filhas e<br />

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