Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
3. AUTO AVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO SOCIAL COMO DOMÉSTICA<br />
3.1. O que é ser Doméstica?<br />
Para Maria a mulher doméstica “ (…) é um faz tudo (…) t<strong>em</strong> uma vida muito, muito<br />
ocupada (…)” (pág.5), porque segundo a narradora é preciso “ (…) tratar da casa, tratar da<br />
roupa (…) a gente faz tudo (…)” (pág.5). Para além disso, a doméstica “ (…) pinta (…) caia<br />
(…) lava (…) esfrega (…) faz comer (…) pinta as pare<strong>de</strong>s, pinta as portas.” (pág.21).<br />
Mediante o seu relato, reconhece que, ser doméstica foi para si, uma obrigação, uma vez que<br />
s<strong>em</strong>pre quis ter uma profissão e o pai nunca permitiu (pág.11). É claro o seu discurso ao<br />
referir: “ (…) ser doméstica é que foi (…) ser só isso. Eu gostava <strong>de</strong> ter tido outro <strong>em</strong>prego,<br />
porque (…) as mulheres s<strong>em</strong>pre têm <strong>em</strong>prego e s<strong>em</strong>pre têm as limpezas (…) têm que fazer <strong>de</strong><br />
donas <strong>de</strong> casa, s<strong>em</strong>pre têm que fazer doméstico.” (pág.11). Conforme o seu relato, Maria dá-<br />
nos a perceber que ser doméstica hoje é diferente <strong>de</strong> ser doméstica antigamente, pois<br />
consi<strong>de</strong>ra que, “ (…) hoje as coisas `tão muito diferentes (…) há muitas coisas p`ra<br />
substituir, há máquinas (…) antes p´ra fazer um bolo fartava-se <strong>de</strong> bater, agora já t<strong>em</strong>os as<br />
bate<strong>de</strong>iras.” (pág.29). Portanto, a narradora enten<strong>de</strong> que houve um progresso ao nível<br />
tecnológico, por ex<strong>em</strong>plo, que permitiu registar alterações também ao nível do trabalho<br />
doméstico, pois a exigência com que se realizam as tarefas também se alteraram, com isto,<br />
Maria sublinha: “ (…) não é tão forçado como era antigamente, o trabalho doméstico. Hoje<br />
(…) anda quase tudo com a esfregona, ninguém se ajoelha no chão (…) eu lavei s<strong>em</strong>pre a<br />
minha cozinha <strong>de</strong> joelhos no chão (…) era s<strong>em</strong>pre tudo b<strong>em</strong> esfregadinho. (…) hoje (…) vejo<br />
aí vir<strong>em</strong> lavar as escadas (…) passa a esfregona numa e a outra fica s<strong>em</strong> passar (…).”<br />
(pág.30). Consi<strong>de</strong>ra, por isso, que apesar do progresso que houve ao nível <strong>de</strong> mais<br />
electrodomésticas, equipamentos e produtos, as tarefas acabam por ser realizadas com menos<br />
precisão “ (…) não é tão duro como era (…) `tá tudo muito modificado.” (pág.30).<br />
Embora muitas vezes o trabalho da mulher doméstica seja <strong>de</strong>svalorizado, Maria<br />
sublinha que <strong>em</strong> casa a mulher doméstica t<strong>em</strong> muito valor porque todos precisam <strong>de</strong>la, como<br />
nos explica a mesma: “ (…) a dona <strong>de</strong> casa, tudo se chega (…) é as filhas vêm a pedir coisas<br />
à mãe, é o marido que chega a pedir coisas (…) parece que não t<strong>em</strong>os valor nenhum, mas no<br />
final t<strong>em</strong>os um gran<strong>de</strong> valor (…) quando chegam a casa tudo precisa da mãe.” (pág.50).<br />
Desta feita, é a própria a reconhecer que a doméstica, por sua vez, precisa <strong>de</strong>les todos<br />
(pág.50).<br />
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