Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
pequenos (…) às vezes não chegava p`ra s<strong>em</strong>ana toda e, então eu fazia assim (…) dava-lhe<br />
fruta ao almoço e ao jantar dava-lhe um chazinho com pão com queijo. (…) e <strong>de</strong> manhã<br />
dava-lhe manteiga.” (pág.42-43). Repare-se que, estando o marido longe <strong>de</strong> casa, Maria<br />
refere que não tinha motivação ou que não era capaz <strong>de</strong> confecionar um doce, pois o marido<br />
era muito guloso e, como <strong>de</strong> cada vez que pensava fazer, se l<strong>em</strong>brava <strong>de</strong>le, então, teria optado<br />
por não fazer (pág.43). Maria consi<strong>de</strong>ra que, quando o marido trabalha e chega a casa ao final<br />
do dia a educação é partilhada e as preocupações divi<strong>de</strong>m-se, mas quando o marido <strong>de</strong>mora<br />
muito a chegar, como era o seu caso, a responsabilida<strong>de</strong> passava a ser s<strong>em</strong>pre sua, seja no<br />
cuidado com a alimentação, seja quando as crianças ficam doentes, no seu caso como afirma:<br />
“ (…) foi mais o t<strong>em</strong>po que eu `tive sozinha do que o t<strong>em</strong>po que `tive com ele.” (pág.45).<br />
Com o marido no Ultramar, como se disse, Maria passava muito t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> casa, o que<br />
fazia com que as filhas também não saíss<strong>em</strong> muito, como se percebe no seu discurso: “ (…)<br />
não saia com as minhas filhas a lado nenhum, não ia a um jardim, não ia a lado nenhum.”<br />
(pág.36). Hoje, a narradora reconhece que a sua atitu<strong>de</strong> não foi a mais correta: “ (…) se fosse<br />
hoje não fazia isso (…) porque elas tiveram a (…) cumprir um sacrifício que (…) eu é que<br />
queria fazer e elas tiveram que fazer comigo (…).” (pág.36). Diz-nos, por isso, que se fosse<br />
hoje levaria as filhas a um jardim, apesar <strong>de</strong> ressalvar que aos bailes não iria, uma vez que o<br />
marido estava longe. Ao refletir sobre o assunto, Maria refere que o marido também nunca<br />
lhe disse que saísse e levasse as filhas a passear, mas no seu discurso aponta duas<br />
explicações: acredita que po<strong>de</strong>ria ser por esquecimento, também admite que essa omissão do<br />
marido po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> o mesmo preferir que Maria não saísse <strong>de</strong> casa (pág.36-37).<br />
Enquanto mãe <strong>de</strong> duas meninas consi<strong>de</strong>ra ter sido essa a sua falha maior ao nível da educação<br />
das mesmas: “ (…) não tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir. E <strong>de</strong>pois não me l<strong>em</strong>brava que as minhas filhas<br />
haviam <strong>de</strong> querer e que precisavam, cumpri isso mal (…) há s<strong>em</strong>pre uma coisa que se<br />
arrepen<strong>de</strong> na vida (…).” (pág.37).<br />
Assim, como a maior parte do seu t<strong>em</strong>po era passado <strong>em</strong> casa, Maria ocupava-se<br />
realizando as tarefas <strong>de</strong> casa, como a própria reconhece: “ (…) lavava a roupa toda no<br />
tanque, mas distraia, porque ajudou-me a passar a solidão do meu marido.” (pág.8). Devido<br />
a alguns probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, no presente, Maria já não é capaz <strong>de</strong> realizar as tarefas<br />
domésticas <strong>de</strong> sua casa, como tal, afirmou sentir essa mesma solidão, pois, o marido já<br />
faleceu e ela sente muita a sua falta (pág.9).<br />
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