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Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

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Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

lamento e com um certo conformismo, passados tantos anos, diz-nos a narradora: “ (…)<br />

gostava mesmo muito do trabalho, foi mesmo a pena que tive, foi <strong>de</strong> não tirar o curso<br />

completo, mas então.” (pág.7). Quando comparando as atitu<strong>de</strong>s e comportamentos do pai e<br />

do marido, Maria reconhece: “ (…) o marido, já eu dominei (…) ele também não se importou<br />

que eu fosse tirar o curso da <strong>de</strong>coração (…) ele gostava que eu fizesse (…).” (pág.7).<br />

Consi<strong>de</strong>ra, por isso, que se as oportunida<strong>de</strong>s tivess<strong>em</strong> surgido <strong>de</strong>pois do casamento, teria<br />

conseguido a profissão pretendida, mais afirma: “ (…) o marido é o marido, o pai, é o pai.”<br />

(pág.7). Segundo ela, o pai era um hom<strong>em</strong> “ (…) ditador (…).” (pág.7). Tal como não<br />

concordou que Maria fosse trabalhar fora <strong>de</strong> casa, também não concordava que a mãe <strong>de</strong><br />

Maria fosse trabalhar para colaborar nas <strong>de</strong>spesas da casa, isto porque era um hom<strong>em</strong> muito<br />

autoritário, como <strong>de</strong> resto nos diz a narradora, o que impossibilitava qualquer <strong>de</strong>cisão por<br />

parte da mãe – esta limitava-se a seguir as or<strong>de</strong>ns do marido (pág.56; 59). Comparativamente<br />

ao presente, Maria consi<strong>de</strong>ra que, “ (…) os maridos hoje não se importam que as mulheres<br />

trabalh<strong>em</strong>. (…) `tão habituados a que a mulher tenha o seu or<strong>de</strong>nado.” (pág.59). De fato, a<br />

<strong>em</strong>ancipação e a entrada da mulher no mercado <strong>de</strong> trabalho vieram inverter esta situação e<br />

permitir que hoje as mulheres não estejam tão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos maridos, Maria enten<strong>de</strong><br />

assim, que esta foi uma mudança favorável: “ (…) foi uma mudança que houve e foi boa (…)<br />

é bom a mulher ter o seu or<strong>de</strong>nado (…).” (pág.60).<br />

Na sua juventu<strong>de</strong>, Maria ocupava os seus t<strong>em</strong>pos livres a bordar e a fazer costura na<br />

casa da avó com a prima, tendo <strong>em</strong> conta os ensinamentos que a avó já lhe tinha dado, apesar<br />

disso, fez-nos ainda saber que ia à casa das amigas, e também recebia as amigas <strong>em</strong> casa,<br />

claro está, eram s<strong>em</strong>pre jovens <strong>de</strong> boas famílias que a mãe conhecesse. Para além disso, <strong>em</strong><br />

ocasiões festivas, como no carnaval, a narradora ia aos bailes mas, tal como refere, era só<br />

quando o pai autorizava (pág. 2; 15 e 17). No <strong>de</strong>correr do seu relato, Maria partilhou um<br />

episódio que lhe aconteceu quando um dia já tinha o seu vestido engomado e perfumado para<br />

ir ao baile. Segundo ela, a mãe tinha autorizado, no entanto, quando o pai chegou a casa,<br />

sentindo o cheiro do perfume no vestido e não tendo dado autorização, não <strong>de</strong>ixou que a filha<br />

fosse ao baile. Para Maria, esta foi uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> difícil compreensão e aceitação, como<br />

afirma: “ esta foi a coisa que mais mal me caiu, o meu pai fazer isto à minha mãe, tirar a<br />

avessida<strong>de</strong> à minha mãe. (…) custou-me tanto aquilo (…) chorei tanto <strong>em</strong> casa da minha avó<br />

(…).” (pág.15-16). Não obstante, hoje, admite compreen<strong>de</strong>r melhor: “ (…) hoje percebo já<br />

muito b<strong>em</strong> isso (…) hoje, já <strong>de</strong>sculpo um bocado (…).” (pág.16). Isto porque, sendo o pai<br />

guarda fiscal, passava muito t<strong>em</strong>po fora <strong>de</strong> casa, então, Maria hoje aceita com mais<br />

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