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Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

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Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

Como não podia estudar, Maria <strong>de</strong>dicou-se à costura, era <strong>de</strong> fato uma arte que muita<br />

apreciava e tão b<strong>em</strong> realizava, como se compreen<strong>de</strong> na etapa que se segue.<br />

2.1.3. ETAPA 3 do Momento 1 (1942): Juventu<strong>de</strong> entre casa dos pais e casa<br />

da avó e realização <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> costura<br />

Em 1942, a narradora inicia um curso <strong>de</strong> bordados mas, tal como nos refere: “ (…) o<br />

meu pai não me <strong>de</strong>ixou continuar, tive <strong>de</strong> vir para casa (…) e não acabei o curso <strong>de</strong><br />

bordados.” (pág.1). Através do seu relato, percebe-se que o curso era ensinado por freiras,<br />

assim sendo, o pai da narradora tinha medo que ela fosse freira, por isso, não a <strong>de</strong>ixou<br />

continuar (pág.2), não obstante é a própria qu<strong>em</strong> assume: “ (…) gostava <strong>de</strong>las mas não tinha<br />

vocação p`ra ser freira (…) rezo muito (…) mas p`ra freira não tinha vocação (…).” (pág.3).<br />

Neste contexto, é clara a tristeza no seu discurso ao afirmar que, ao longo da sua trajectória<br />

<strong>de</strong> vida, muitos foram os percalços que não lhe permitiram concretizar os seus sonhos, como<br />

<strong>de</strong> resto <strong>de</strong>staca: “ (…) nunca pu<strong>de</strong> acabar nada que eu comecei (…).” (pág.3).<br />

Por via do seu relato, sabe-se que Maria viveu com a avó até casar, uma vez que, a tia<br />

que vivia com a avó faleceu, como tal, e para que a avó não ficasse sozinha a narradora diz-<br />

nos: “ (…) vivi com a minha avó (…)” (pág.6), como nos explicou, durante o dia ia a casa dos<br />

pais, mas à noite: “ (…) ia a dormir com a minha avó (…)” (pág.16). Segundo Maria a avó<br />

valorizava muito os seus trabalhos manuais, incentivava-a a bordar e costurar, até se oferecia<br />

para lhe fazer a cama (pág.6). Embora o pai da narradora não quisesse que a mesma<br />

trabalhasse fora <strong>de</strong> casa, ela diz-nos que: “ (…) apanhava malhas nas meias p`ra ganhar<br />

alguma coisa (…)” (pág.6); para além disso, bordou também uns lenços para uma senhora,<br />

mas foi um trabalho pontual e <strong>de</strong> curta duração. Durante a sessão <strong>de</strong> entrevista, foi com<br />

alguma tristeza que Maria falou sobre o assunto, uma vez que s<strong>em</strong>pre quis <strong>de</strong>senvolver a sua<br />

aptidão pela costura e pelo bordado, perspectivando mesmo ser uma profissional r<strong>em</strong>unerada<br />

mas, nunca o conseguiu porque o seu pai não permitiu que trabalhasse para fora. É<br />

esclarecedora ao relatar: “ (…) podia ter andado numa costura <strong>de</strong> alfaiate, que ganhava<br />

como as costureiras ganhavam. (…) gostava <strong>de</strong> ter ido (…) gostava <strong>de</strong> ser r<strong>em</strong>unerada do<br />

meu trabalho, agora trabalhar e não ter lucro nenhum (…).” (pág.6). Maria gostava que o<br />

seu trabalho pu<strong>de</strong>sse ser reconhecido e valorizado economicamente, o que <strong>de</strong> facto não<br />

acontecia, pois tudo o que fazia era para casa, para si e para a família (pág.6), dado consi<strong>de</strong>rar<br />

que “ (…) a gente aquilo que sabe <strong>de</strong>ve ensinar aos outros (…).” (pág.49). Em tom <strong>de</strong><br />

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