Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
3.2. ETAPA 2 do Momento 3: Alteração <strong>de</strong> hábitos e rotinas <strong>em</strong> relação à:<br />
realização das tarefas domésticas, às saídas e cuidados pessoais<br />
É também Rita a reconhecer que, com a doença do marido a realização das tarefas<br />
domésticas sofreu alterações, uma vez que a sua disposição também se alterou, segundo ela:<br />
“ (…) tento fazer alguma coisa <strong>em</strong> casa, pouco, limpezas é quando… vai ficando como `tá<br />
(…) tenho as minhas costas <strong>de</strong>sgraçadas, e tamêm (…) não me dá coisa <strong>de</strong> andar um dia<br />
inteiro e ele aqui sozinho, dá-me pena (…).” (pág.4). Uma vez que a entrevista teve lugar na<br />
casa da narradora, mediante a observação realizada foi possível perceber que a casa não está<br />
suja, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>sarrumada; no entanto, Rita sente que não está tão limpa quanto estava antes da<br />
doença do marido. Ainda neste contexto, fez-nos saber que, há cerca <strong>de</strong> um ano, comprou uns<br />
novos cortinados e almofadas para a cozinha, com o intuito <strong>de</strong> renovar a cozinha, <strong>em</strong>bora<br />
como ela nos revelou: “ (…) ainda não os estreei, `tão lá <strong>em</strong> cima, a mudança da cozinha<br />
ainda não foi este ano.” (pág.47).<br />
Para além disso, nos dias <strong>de</strong> hoje e, <strong>de</strong>vido ao avançar da doença do marido, Rita<br />
sente-se s<strong>em</strong> qualquer “ (…) natureza p`a sair seja lá on<strong>de</strong> for (…)” (pág.19), como nos<br />
disse: “ (…) não vou beber um café (…) on<strong>de</strong> quer que íamos, (…) íamos e divertíamos (…)<br />
e, agora ninguém me vê (…) n<strong>em</strong> à minha família (…)” (pág.19). Rita explicou-nos que<br />
<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ir à Baixa da Banheira visitar a família, pois sabe que o marido gostava muito da<br />
sua família e, principalmente dos cunhados. Como tal, não consegue estar com eles sabendo<br />
que o marido fazia muito gosto <strong>em</strong> acompanhá-la se a saú<strong>de</strong> lhe permitisse (pág.19). Ao<br />
longo do seu discurso são notórias as sauda<strong>de</strong>s que sente da família feliz que tinha. Isto<br />
porque, hoje, tanto ela como os filhos sofr<strong>em</strong> ao ver a <strong>de</strong>bilitação do pai e marido. Conforme<br />
nos relatou: “ (…) o nosso relacionamento, pais e filhos era s<strong>em</strong>pre com o respeito <strong>de</strong> pais,<br />
s<strong>em</strong>pre, s<strong>em</strong>pre muito, muito aberto (…) a nível <strong>de</strong> família, tenho uns bons filhos, tenho um<br />
bom marido, fomos uns pais impecáveis.” (pág.5).<br />
Ao recordar os últimos t<strong>em</strong>pos que passou na pastelaria, Rita fala-nos do quão difícil<br />
era olhar para as pessoas, vê-las felizes a viver a vida e ela pensar que, o t<strong>em</strong>po tinha parado<br />
só para si. São fortes as suas palavras ao afirmar: “ (…) tanta gente a passear e eu nunca mais<br />
vou po<strong>de</strong>r passear com o meu marido (…)” (pág.46). É também inevitável a tristeza sentida<br />
nas suas palavras: “ (…) ao fim ao cabo custava muito ver as outras pessoas continuar<strong>em</strong> a<br />
viver aquilo que eu vivi e eu tinha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> viver, só eu é que sabia (…)” (pág.46). De fato,<br />
todos estes acontecimentos contribuíram para que Rita esquecesse <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> si: ao longo<br />
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