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Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

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Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

que, trabalhou naquela oficina toda a vida, teve contato com bancos, com finanças, a<br />

pastelaria (…) foi ele que tratou da papelada toda (…)” (pág.24). Para Rita eram<br />

incompreensíveis tais reacções apresentadas pelo marido; sabe-se que, a partir daí, a doença<br />

só foi piorando, como nos relata: “ (…) aquilo foi um <strong>de</strong>scalabro (…) ponha-se a montar<br />

uma mesa <strong>em</strong> cima d`outra (…) ele encomendava coisas, <strong>de</strong>pois houve um ven<strong>de</strong>dor que se<br />

aproveitou (…) era só comprar, comprar (…) já tinha a cave cheia (…)” (pág.24). Tendo <strong>em</strong><br />

conta todas estas situações, Rita consi<strong>de</strong>rou que o melhor seria arrendar a pastelaria. Com<br />

efeito, ao recordar esse t<strong>em</strong>po, Rita reconhece: “ (…) houve uma altura <strong>em</strong> que pensei, `tou<br />

mêmo a cair no fundo, não sabia o que havia <strong>de</strong> fazer à minha vida. Ter <strong>de</strong> gerir a<br />

pastelaria, aqueles papéis, <strong>de</strong>ixei tudo e vim p`ra casa cuidar <strong>de</strong>le e, vou cuidar até ao fim.”<br />

(pág.50). Neste sentido, ficou <strong>em</strong> casa, s<strong>em</strong> trabalhar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2007 “ (…) `tou <strong>em</strong> casa há<br />

cinco anos por causa da doença do meu marido, t<strong>em</strong> sido muito complicado (…)” (pág.4),<br />

porque o marido <strong>de</strong> Rita, ficou inteiramente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da esposa, por ter perdido a<br />

mobilida<strong>de</strong>. Rita explica assim, a sua tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão: “ (…) entreguei a pastelaria (…)<br />

p`ra vir tratar do (…) marido. Achei que ele não merecia andar por aí sozinho, enquanto<br />

pô<strong>de</strong> andar, an<strong>de</strong>i com ele na rua, <strong>de</strong>pois na ca<strong>de</strong>irinha <strong>de</strong> rodas (…) enquanto pu<strong>de</strong>, não<br />

posso já, <strong>de</strong> maneira nenhuma, as minhas costas não po<strong>de</strong>m mais.” (pág.4). É claro o seu<br />

relato ao referir que não conseguia <strong>de</strong>ixar o marido <strong>em</strong> casa sozinho; <strong>de</strong>sta feita, abdicou do<br />

seu trabalho para cuidar <strong>de</strong>le 24 horas por dia, pois enten<strong>de</strong> que o marido é merecedor <strong>de</strong><br />

todo esse cuidado: “ (…) tudo quanto faço por ele é pouco e tudo quanto os filhos faz<strong>em</strong> por<br />

ele é pouco, é uma jóia <strong>de</strong> pessoa, muito bom pai, muito bom marido.” (pág.4). Neste<br />

contexto, o seu discurso chega a ser paradoxal, pois, por um lado, diz-nos que foi muito<br />

difícil: “ custou-me muito, principalmente porque a pastelaria foi (…) o trabalho que fiz ao<br />

longo da minha vida toda que mais gostei (…) costumava dizer que aquilo é um palco,<br />

porque ri-se, chora-se (…) uma porta aberta e entra tudo (…) é verda<strong>de</strong>, foi dos (…) que<br />

mais gostei (…)” (pág.5); e por outro, sentia-se: “ (…) um bocado cansada <strong>de</strong> `tar lá tanta<br />

hora, <strong>em</strong>bora não fosse s<strong>em</strong>pre a trabalhar, era o dia intêro. Depois chegava a casa tinha <strong>de</strong><br />

orientar as coisas para <strong>de</strong> manhã, p`o almoço, p`o jantar (…).” (pág.5). Digamos que, Rita<br />

gostava muito daquilo que fazia mas, <strong>em</strong> contrapartida, consi<strong>de</strong>rava a dupla tarefa <strong>de</strong>masiado<br />

<strong>de</strong>sgastante para si. Posto isto, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> viação (relatados ao longo da<br />

transcrição da entrevista entre as páginas 26-31), numa das consultas <strong>em</strong> que Rita estava<br />

presente, o marido pe<strong>de</strong> ao médico que o reforma, para espanto e, <strong>em</strong> simultâneo, satisfação<br />

da narradora, pois sabia que o marido já não estava capaz <strong>de</strong> exercer qualquer ativida<strong>de</strong><br />

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