Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
Segundo Rita, <strong>em</strong> 1960 com 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, concluiu a 4.ª classe, não tendo dado<br />
continuida<strong>de</strong> aos estudos por <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> seu pai. Pois, este consi<strong>de</strong>rava que as mulheres não<br />
precisam <strong>de</strong> estudar (pág.1). No que respeita às tarefas domésticas, a narradora recorda que<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo começou a ajudar <strong>em</strong> casa, mesmo enquanto estudava: “ (…) comecei <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
pequenina a trabalhar nas tarefas domésticas (…) porque a minha mãe ia trabalhar (…) ao<br />
sair da escola tinha que ir cozer feijão ou qualquer coisa (…) adiantar o comer (…).”<br />
(pág.1). Como o pai tinha uma taberna, Rita era qu<strong>em</strong> cozinhava os petiscos que ele ali<br />
servia. Tendo <strong>em</strong> conta todas as tarefas que fazia, com tão pouca ida<strong>de</strong>, é a própria narradora<br />
a reconhecer: “ (…) às vezes pensava, faço coisas que uma mulher casada não faz.” (pág.2).<br />
Uma vez que a mãe trabalhava no campo, ela também cuidou muitas vezes dos dois irmãos<br />
mais pequenos.<br />
Quanto às condições habitacionais da família o relato evi<strong>de</strong>ncia que eram muito<br />
carenciadas, até porque, não tinham água canalizada <strong>em</strong> casa. Assim sendo, a narradora e os<br />
irmãos tinham <strong>de</strong> ir buscar água à bica e, a roupa era lavada <strong>em</strong> tanques públicos pela mãe<br />
(pág.2). No que respeita ao ambiente familiar Rita reconhece que o pai era um hom<strong>em</strong> rígido<br />
<strong>em</strong> casa, bebia muito o acabava por proporcionar um ambiente extr<strong>em</strong>amente <strong>de</strong>sagradável a<br />
todos, como nos relatou: “ (…) o meu pai (…) tinha mau feitio p`ra nós (…) ele tamêm bebia<br />
um pedacinho (…) sofri um bocado com isso (…).” (pág.6). Mais nos adianta: “ (…) era uma<br />
pessoa muito, muito incompreensível, não sabia ler n<strong>em</strong> escrever mas, isso não era causa.”<br />
(pág.18).<br />
Aos quinze anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (1965), diz-nos Rita que começou a trabalhar numa fábrica<br />
<strong>em</strong> Moura. E, <strong>em</strong>bora acrescente: “ (…) o (…) pai não foi muito <strong>de</strong> acordo.” (pág.6), Rita<br />
refere que foi trabalhar porque se sentia “ (…) saturada <strong>de</strong> `tar <strong>em</strong> casa, só a fazer a lida da<br />
casa (…)” (pág.6). Repare-se que, mais uma vez, o pai não queria que a filha trabalhasse<br />
fora <strong>de</strong> casa; já anteriormente não permitira que ela estudasse pois, nessa época o seu objetivo<br />
era que a filha fosse somente uma boa dona <strong>de</strong> casa (pág.6). Ora, foi na fábrica que Rita<br />
conheceu o seu atual marido, também <strong>em</strong>pregado ali, tendo começado o namoro <strong>em</strong> 1966.<br />
Mas, se tudo parecia correr b<strong>em</strong>, foi por pouco t<strong>em</strong>po, pois, como se compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong> seguida,<br />
o namoro acabou quando Rita se mudou para Lisboa juntamente com a família, mediante<br />
<strong>de</strong>cisão do pai.<br />
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