Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
<strong>de</strong> fazer falta. (…) acho que compreen<strong>de</strong>m isso, penso eu que sim.” (pág.17-18). Já na casa<br />
dos pais Natércia sentia que havia essa valorização, segundo palavras suas: “ (…) eu falo pelo<br />
ex<strong>em</strong>plo dos meus pais (…) s<strong>em</strong>pre foram umas pessoas compreensivas e, tudo o que eu fazia<br />
(…) <strong>de</strong>ram s<strong>em</strong>pre valor àquilo que eu fiz (…).” (pág.18). Apesar <strong>de</strong>sta sua avaliação<br />
positiva, o seu discurso é paradoxal afirma que, actualmente, o marido <strong>de</strong>svaloriza o trabalho<br />
da mulher doméstica, mas <strong>de</strong>svalorizava ainda mais quando ela conciliava a dupla tarefa: “<br />
(…) não dá valor a qu<strong>em</strong> trabalha, ao trabalho <strong>de</strong> casa (…) eu chegava a casa, tinha que<br />
fazer tudo como se eu tivesse <strong>em</strong> casa. (…) ele não <strong>de</strong>spejava um bal<strong>de</strong> do lixo (…) nã lavava<br />
uma louça, nã punha a mesa (…) não dá o valor, ainda hoje não dá, sinceramente não dá.”<br />
(pág.40-41). Natércia consi<strong>de</strong>ra que, estando os dois el<strong>em</strong>entos do casal a trabalhar fora, o<br />
marido podia colaborar mais se chegasse a casa primeiro, começando a orientar o jantar, por<br />
ex<strong>em</strong>plo (pág.42); no entanto, não era o que acontecia, como nos esclarece: “ (…) ele<br />
trabalhava fora, eu tamêm, quando chegávamos a casa ele podia me dar uma mãozinha,<br />
entre os dois, mas não, não me ajudava.” (pág.42-43).<br />
Apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a partilha das tarefas domésticas pelo casal, Natércia acaba por<br />
tornar paradoxal o seu discurso quando nos diz que a partilha só <strong>de</strong>ve existir no caso da<br />
mulher não <strong>de</strong>senvolver qualquer ativida<strong>de</strong> laboral fora <strong>de</strong> casa: “ (…) se ela `tá o dia inteiro<br />
<strong>em</strong> casa, e se tiver t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fazer limpezas e isso tudo, acho que não vale a pena o outro `tar<br />
a ajudar.” (pág.22). Consi<strong>de</strong>ra, por isso, que o marido po<strong>de</strong>, sim, ajudar no cuidado com os<br />
filhos, durante as refeições, nos banhos (pág.22); porém, reforça a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que “ (…) se a<br />
pessoa tiver <strong>em</strong> casa, a mulher e, tiver t<strong>em</strong>po, vai ela fazendo durante o dia.” (pág.23).<br />
É forte o discurso <strong>de</strong> Natércia quando a mesma se refere à opinião do marido sobre o<br />
seu trabalho <strong>em</strong> casa, “ (…) ele só o que diz é que `tou <strong>em</strong> casa e que nã faço nada.”<br />
(pág.43). Ao longo do seu relato <strong>de</strong>monstra claramente que o marido o <strong>de</strong>svaloriza <strong>de</strong>vido ao<br />
facto <strong>de</strong> não implicar qualquer or<strong>de</strong>nado, pelo que os comentários do mesmo perturbam a<br />
narradora: “ só se refere ao trabalho quando recebe um or<strong>de</strong>nado, como eu não trabalho<br />
agora (…) sinto-me mal, por não ganhar.” (pág.43). Daí po<strong>de</strong>rmos compreen<strong>de</strong>r porque é<br />
que Natércia prefere conciliar a dupla tarefa, ao invés <strong>de</strong> estar <strong>em</strong> casa todos os dias: “<br />
preferia, preferia. Além <strong>de</strong> ganhar (…) ando mais distraída, as coisas têm que se fazer da<br />
mesma maneira (…) faz-se, resolve-se. E assim, nã tenho dinheiro, porque nã ganho e `tou<br />
ouvindo coisas <strong>de</strong>stas que não gosto.” (pág.43). É mais clara ainda, ao referir: “ (…) <strong>de</strong>pois<br />
aborrece-me, fico aborrecida, porque eu não trabalho, porque nã ganho, e mesmo assim <strong>em</strong><br />
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