Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...
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Trabalho Doméstico:<br />
Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />
Quando refletindo sobre a gestão do orçamento familiar e, retroce<strong>de</strong>ndo ao t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
que vivia na casa dos seus pais (Momento 1- etapa 1e2), a narradora consi<strong>de</strong>ra que, apesar<br />
das dificulda<strong>de</strong>s monetárias, antigamente toda a gestão era mais facilitada, pois as pessoas<br />
tinham muitos dos recursos <strong>em</strong> casa, nomeadamente ao nível <strong>de</strong> bens alimentares, como nos<br />
ex<strong>em</strong>plifica: “ na horta s<strong>em</strong>eava-se (…) nã se gastava tanto dinheiro (…) tinha-se as<br />
galinhas com uns ovos (…) quando apetecia matávamos uma galinha (…) poupava-se, era<br />
diferente, orientava-se as coisas com aquilo que havia (…) o meu pai tamêm tinha cabras<br />
(…) porcos, fazíamos a matança (…) tinhamos linguiças (…) presunto, pronto, toucinho (…)<br />
não vinham a comprar-se tantas coisas como hoje se compra (…).” (pág.11). Posteriormente,<br />
e nos t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que já trabalhava (Momento 2 – etapa 4), diz-nos a narradora que juntava o<br />
seu or<strong>de</strong>nado ao do marido, “ (…) era só uma carteira (…)” (pág.47), e com esse dinheiro<br />
pagavam a casa, as <strong>de</strong>spesas da casa, tais como: água, luz, telefones; e <strong>de</strong>pois era gerir na<br />
alimentação, nas compras que tinham <strong>de</strong> fazer (pág.47). Ora, a narradora consi<strong>de</strong>ra que nos<br />
dias <strong>de</strong> hoje (Momento 3) essa gestão t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser realizada “ (…) com um bocadinho <strong>de</strong><br />
sacrifício (…)” (pág.12), uma vez que, as <strong>de</strong>spesas mensais são variadas: “ (…) t<strong>em</strong> que se<br />
pagar a casa, água, luz e gás, portanto, é uma vida que fica mais cara do que ficava<br />
antigamente.” (pág.12). Natércia admite que, estando ela <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada, dispondo apenas do<br />
or<strong>de</strong>nado do marido (pág.47), o sentido <strong>de</strong> orientação (pág.12) é fundamental, isto porque,<br />
têm mesmo <strong>de</strong> comprar tudo o que faz falta, não tendo qualquer horta <strong>em</strong> casa (pág.12).<br />
Depois <strong>de</strong> pagar as <strong>de</strong>spesas já mencionadas, a narradora revela como orienta a alimentação:<br />
“ (…) costumo (…) ir ao supermercado, quando o meu marido recebe e compro,<br />
normalmente, o avio, normalmente p`ro mês (…) acho que me oriento melhor.” (pág.12). No<br />
<strong>de</strong>correr da conversa, Natércia refletiu sobre o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> capitalização, uma<br />
questão <strong>de</strong> todo pertinente: é que enquanto trabalhava fora <strong>de</strong> casa, a gestão do orçamento<br />
familiar estava a seu cargo, mas essa situação alterou-se pouco t<strong>em</strong>po antes <strong>de</strong> ficar<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregada, visto ser o marido qu<strong>em</strong> hoje orienta todo o orçamento (47-48). É claro o seu<br />
discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento perante a situação: “ (…) antes (…) qu<strong>em</strong> punha e dispunha<br />
era eu (…) agora não (…) nã trabalho nã tenho direito a orientar (…).” (pág.48). Esta<br />
gestão realizada pelo marido fez com que, nos dias <strong>de</strong> hoje Natércia não possua qualquer<br />
poupança monetária do seu trabalho, uma vez que, enquanto trabalhou no restaurante e<br />
<strong>de</strong>vido aos seus horários, era o marido qu<strong>em</strong> ia ao banco <strong>de</strong>positar os seus cheques mensais,<br />
como tal, a narradora acabou por per<strong>de</strong>r o acesso ao seu dinheiro (pág.48). Assim sendo, é<br />
claro o seu <strong>de</strong>sânimo ao afirmar: “ (…) agente quando ganha, e quando trabalha gosta <strong>de</strong> ter<br />
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