Guia de Divulgação Científica - Museu da Vida - Fiocruz
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geralmente basea<strong>da</strong> em notícias curtas ou ‘clipes’, que tem origem<br />
em materiais que são basicamente traduzidos <strong>de</strong> fontes oci<strong>de</strong>ntais.<br />
Os programas <strong>de</strong> ciência na televisão não <strong>de</strong>monstram<br />
imaginação e freqüentemente não têm relevância local. A maioria<br />
se baseia em entrevistas com acadêmicos especialistas ou em<br />
um apresentador <strong>de</strong>screvendo cenas <strong>de</strong> documentários que foram<br />
comprados no exterior. Gravados <strong>de</strong>ntro dos estúdios com<br />
câmeras fixas, os programas previsivelmente não conseguem<br />
pren<strong>de</strong>r a atenção do público egípcio. [6]<br />
Os jornalistas <strong>de</strong> ciência dizem que, embora os egípcios possam<br />
se interessar em assistir uma cobertura <strong>de</strong> matérias locais <strong>de</strong><br />
ciência, este po<strong>de</strong> ser um trabalho difícil. Muitas <strong>da</strong>s instituições<br />
científicas do país, por exemplo, não têm a tecnologia para<br />
divulgar amplamente as suas <strong>de</strong>scobertas. Re<strong>de</strong>s extensas <strong>de</strong><br />
computadores, por exemplo, continuam um mero sonho em muitas<br />
<strong>da</strong>s instituições científicas e universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Egito, com fundos<br />
escassos. As universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e instituições científicas egípcias<br />
ten<strong>de</strong>m a ter websites rudimentares e não divulgam suas<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>de</strong> boletins informativos ou press-releases.<br />
Mas também os jornalistas sofrem <strong>de</strong> privação <strong>de</strong>sses recursos, que<br />
são tão vitais ao seu trabalho. Mesmo os maiores jornais e canais<br />
<strong>de</strong> televisão do Egito não têm verba para fornecer computadores e<br />
conexões <strong>de</strong> Internet para seus repórteres e editores.<br />
Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> treino<br />
Outro problema enfrentado por aqueles que trabalham no campo<br />
é a falta <strong>de</strong> treino acadêmico dos jornalistas <strong>de</strong> ciência. “Nossas<br />
universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dão pouca ou nenhuma importância às formas<br />
especializa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> jornalismo”, diz Ismail Ibrahim, editor<br />
administrativo do jornal Al-Ahram e professor <strong>de</strong> jornalismo e<br />
comunicação <strong>de</strong> massa na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Cairo.<br />
Ibrahim <strong>de</strong>staca que as facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> jornalismo nas<br />
universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s árabes ain<strong>da</strong> têm currículos que foram<br />
<strong>de</strong>senvolvidos mais <strong>de</strong> 50 anos atrás. “A maioria dos professores<br />
<strong>de</strong> comunicação em massa se concentra nos aspectos teóricos<br />
do jornalismo, e não no jornalismo prático”, diz ele. Jornalistas<br />
recém-graduados precisam apren<strong>de</strong>r diretamente no trabalho<br />
as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s práticas, inclusive aquelas necessárias para a<br />
cobertura especializa<strong>da</strong>, como ciência, por exemplo.<br />
Algumas instituições jornalísticas organizam oficinas ocasionais<br />
para qualificar melhor seus jornalistas científicos, em particular<br />
os jornais Al-Ahram e Al-Akhbar. Mas poucos jornalistas científicos<br />
participam <strong>de</strong>sses eventos. [7] Às vezes, eles não são enviados para<br />
participar <strong>de</strong> tais contatos ou sequer sabem que eles ocorrem. Há<br />
também casos em que consi<strong>de</strong>ram essas oficinas sem importância<br />
ou simplesmente não tem tempo para particiapr <strong>de</strong>las.<br />
Enquanto isto, organizações internacionais estão promovendo<br />
um número ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong> oficinas sobre temas particulares.<br />
Mas a maioria <strong>de</strong>las se limita a fornecer informações básicas,<br />
sobre questões ambientais, por exemplo, que ampliarão o<br />
conhecimento geral dos jornalistas <strong>de</strong> ciência do Egito. Poucas,<br />
<strong>Guia</strong> <strong>de</strong> <strong>Divulgação</strong> <strong>Científica</strong><br />
ou nenhuma, <strong>de</strong>ssas oficinas se <strong>de</strong>stinam a treinar os jornalistas<br />
nas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que eles realmente necessitam para comunicar<br />
ciência ao público geral.<br />
Sinais positivos<br />
A implantação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> entre jornalistas árabes<br />
<strong>de</strong> ciência po<strong>de</strong>ria resolver alguns <strong>de</strong>stes problemas. “A re<strong>de</strong><br />
criaria uma atmosfera construtiva <strong>de</strong> competição entre<br />
jornalistas <strong>de</strong> ciência, além <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> idéias e experiências”,<br />
diz Mostafa Anbar, jornalista <strong>de</strong> ciência do diário Al-Gomoriyah.<br />
“Coalizões são uma fonte <strong>de</strong> força para os participantes e<br />
permitem que outras organizações e partes se comuniquem<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente com eles”.<br />
Um exemplo nessa direção é o Fórum Árabe <strong>de</strong> Mídia para o<br />
Meio Ambiente e Desenvolvimento (AMFED, Arab Media Forum<br />
for Environment and Development), que reúne os profissionais<br />
<strong>da</strong> mídia árabe que trabalham no campo do jornalismo ambiental.<br />
Com membros oriundos <strong>de</strong> nove países árabes – Egito, Síria,<br />
Líbano, Jordânia, Tunísia, Marrocos, Iêmen, Emirados Árabes<br />
Unidos e Palestina –, o AMFED, Arab Media Forum for Environment<br />
and Development, foi criado como um resultado <strong>de</strong> “extensos<br />
esforços em nome <strong>da</strong> Regional Support Office of the Urban<br />
Management Programme for the Arab States (UMP-ASR).” [8]<br />
Entre suas várias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a AMFED une as organizações <strong>de</strong><br />
mídia <strong>de</strong>sses países que se concentram em questões ambientais<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento na região. Contudo, os esforços do fórum<br />
ain<strong>da</strong> não foram sentidos por muitos jornalistas <strong>de</strong> ciência do<br />
Egito. Sem um website na Internet ou um grupo <strong>de</strong> discussão por<br />
e-mail – conseguir a participação <strong>da</strong> maioria dos jornalistas<br />
ambientais árabes no fórum ain<strong>da</strong> continua sendo um <strong>de</strong>safio.<br />
Outra maneira pela qual a tecnologia mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> comunicação<br />
po<strong>de</strong> abrir oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para uma melhor comunicação em<br />
ciência é o recente <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> canais árabes por<br />
satélite. Estes já estão apresentando um impacto positivo na<br />
comunicação pública <strong>da</strong> ciência na região.<br />
A empresa egípcia <strong>de</strong> comunicação via satélite Nilesat, por<br />
exemplo, transmite atualmente dois canais que se <strong>de</strong>dicam à<br />
medicina e saú<strong>de</strong>. Horus é dirigido aos médicos e procura<br />
“fornecer treino e educação continuados para os médicos,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>da</strong> graduação”, <strong>de</strong> acordo com o diretor <strong>de</strong> televisão<br />
Muhammad Abulfotouh, um dos fun<strong>da</strong>dores do canal e seu expresi<strong>de</strong>nte.<br />
O Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> do Egito é responsável pelo<br />
financiamento e administração tanto do ‘Horus’ quanto do canal<br />
via satélite ‘Nefertiti para a Família e a Criança’, que fornece<br />
informações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para um público mais amplo.<br />
Satisfazendo as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do público<br />
Infelizmente, porém, as preferências televisivas do público<br />
recebem pouca atenção. Em 1986, a União Egípcia <strong>de</strong> Radiodifusão<br />
e Televisão tentou abor<strong>da</strong>r esta questão realizando uma pesquisa<br />
[8] Informações forneci<strong>da</strong>s por Ran<strong>da</strong> Fouad, secretária-geral do AMFED.<br />
Os <strong>de</strong>safios enfrentados pelo jornalismo científico no Egito e Oriente Médio<br />
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