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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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alguns outros intelectuais brasileiros do período. Na década de 1850, o baiano Eduardo<br />

Ferreira França aproveitou uma frase do médico francês, aquela que dizia que “as idéias<br />

são fenômenos ou estados muito móveis da inteligência, que muitas vezes passam como<br />

o relâmpago, algumas há que persistem, e custam a abandonar-nos”, para dar<br />

sustentação às teses de Investigações de psicologia, e se pode confirmar o interesse do<br />

livro justamente por notar algo de aleatório no funcionamento da imaginação. 234 Na<br />

falta de leitura direta, o autor de Os dois amores poderia compartilhar de noções então<br />

afins com as disparadas de um cérebro atuante presente no Physiologie philosophique,<br />

especialmente nas observações contidas na parte dissertativa sobre o exercício da<br />

memória. O médico francês admitia uma atividade involuntária no momento em que a<br />

lembrança, após de uma percepção sensorial nova, resgatava as iluminuras do passado:<br />

Agréables ou pénibles, les souvenirs participent aux sensation qui en sont l’origine;<br />

tristes ou gais, ils participent, par les émotious qu’ils renouvellent, aux émotions qui ont<br />

primitivement accompagné les perceptions dont ils sont nés. Quelquefois obscurs et<br />

confus, dans les premiers moments de leur apparition dans la mémoire, nos souvenirs<br />

finissent par s’éclaircir et devenir. Souvent aussi leur faiblesse, leur confusion tiennent à<br />

leur ancienneté , à des impressions primitives trop légéres; ils s’effacent alors comme<br />

les empreintes superficielles que le temps fait disparaître. 235<br />

Munido de seus conhecimentos adquiridos com a leitura de tratados médicos<br />

filosóficos 236 e de romances e folhetins, Joaquim Manuel de Macedo, após todo um<br />

preparo no ânimo da dúbia Mariana, resolveu desintegrar por um momento sua<br />

personalidade na erupção do devaneio maníaco. No capítulo XLII, chamado<br />

sugestivamente de Os remorsos, simulou com a narrativa as inconstâncias de uma<br />

mente entregue aos galopes de um coração palpitante e, conseqüentemente, ao ritmo de<br />

imagens revoltosas a uma organização clara, linear, bem ao gosto da alegoria clássica,<br />

para apresentar um universo mais coerente na apresentação dos distúrbios psíquicos.<br />

Assim, logo no início, sua voz ponderada preparou o que mais à frente irromperia com<br />

força no ânimo da personagem. Começou falando do homem criminoso:<br />

234 FRANÇA, op. cit., p.365.<br />

235 GERDY, op. cit., p.398.<br />

236 Na época em que Macedo escreveu Os dois amores, a maior ambição dos alienistas era ler o que ia na<br />

mente dos internados, acessar o modo fragmentário, perceber as incoerências, como os pacientes se<br />

expressavam. Apesar de já esboçado em Pinel, a prática de valorização dos processos cognitivos para o<br />

apoio do estabelecimento de uma sintomatologia da loucura adquiriu proeminência com o seu discípulo,<br />

Esquirol, no seu livro Des maladies mentales, considérées sous les rapports medical, hygiénique et<br />

médico-légal(1838). RIGOLI, Juan. Lire l délire – alienismo, rhétorique et littérature em France au XIX<br />

siècle. Paris: Librairie Arthème fayard, 2001.

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