Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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Mantiqueira, o autor conduziu os leitores até o cômodo onde uma senhora transpirava<br />
melancolia:<br />
Em uma sala ricamente adornada de uma casa situada no Botafogo, estava uma jovem<br />
senhora melancolicamente debruçada sobre um canapé. Uma lâmpada acesa, colocada<br />
em cima de uma mesa, esclarecia a sala, debuxando nas paredes mil objetos diversos,<br />
mil diferentes sombras que, entretanto, pareciam todas, como de acordo, exprimir o<br />
mesmo pensamento triste que animava aquela senhora. 224<br />
A senhora, obviamente, era Maria. Seu estado de ânimo tinha o poder de<br />
contaminar todo o ambiente, assim como ocorrera com o efeito dos suspiros do amado<br />
sobre os violentos achaques da natureza. Claro está que os recursos utilizados por<br />
Pereira da Silva, se comparados a um Tieck, a um Von Armin, a um Hoffmann,<br />
principais ficcionistas do romantismo alemão, calhariam como peças insossas e<br />
desbotadas, porém por si só corresponderam a tentativas estilísticas, leituras possíveis,<br />
cujos resultados aproximaram o fazer literário brasileiro de uma figuração e<br />
narratividade fantasmagórica.<br />
Tal incursão produziu-se num momento de entrada significativa da teoria do<br />
conhecimento no Brasil, dados com a adesão dos intelectuais românticos à emergência<br />
do ecletismo espiritualista, em especial, a partir da década de 1830. As informações<br />
contidas nos compêndios de filosofia de Victor Cousin e de outros filósofos ligados ao<br />
movimento deram aos brasileiros a oportunidade de travarem contato com um sistema<br />
que levantava os mais significativos ganhos sobre os estudos das faculdades da mente,<br />
algo de fundamental importância pra a absorção do realismo filosófico pela prosa de<br />
ficção e a conseqüente modernização da forma literária, então contida na incidência<br />
retilínea da alegoria. Conforme os conceitos iam se vulgarizando com os debates<br />
intelectuais travados na imprensa, com as traduções, com os manuais para uso dos<br />
estudantes, a descrição das peripécias presentes nos contos e romances brasileiros<br />
tornava-se mais receptiva aos encaixes de uma subjetividade incontrolável e<br />
fragmentária.<br />
4.10- Dois amores<br />
224 Idem, p. 99.