Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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italiana colocado em um local confortável para admirar o panorama histórico e natural<br />
contagiantes:<br />
O viajor antes de visitar Pozzuolo e seus arredores, deve ver Hercolano e Pompéia, e<br />
depois de haver estudado o caráter dos monumentos, admirado a delicadeza do pincel, e<br />
do cinzel antigo, ter idéia clara de sua magnificência à vista dos restos animados que o<br />
Vesúvio nos conservará; então poderá interrogar, com a história na mão, o primeiro<br />
pardieiro que encontrar; então a pedra solitária, o alicerce desmoronando, a coluna<br />
carcomida lhes responderão eloqüentemente; e a harpa de sua alma sentirá vibrações<br />
melancólicas, feridas pela mão da meditação; prazer inexplicável, sensação sublime<br />
quer se arrepie no passado, quer se lance no futuro: esta espécie de infinito, esta<br />
obscuridade que se encontra na campa da morte, ou nas asas da esperança, a voz da<br />
tradição, a voz do pressentimento tem encantos mesclados de riso e as lágrimas, tem<br />
uma mística modulação, que é gratíssima ao coração sensível. 219<br />
Exemplo destas absorções imagético-emotivas da paisagem multiplicou-se nas<br />
primeiras prosas de ficção nacionais, dentre elas o conto de Pereira da Silva Amor,<br />
ciúme e vingança, publicado entre 1838 e 1839 no Museo Universal. 220 A história girou<br />
em torno de três personagens: um casal apaixonado, Maria e Adolfo, e um negociante<br />
de escravos, Frederico, cujo dinheiro emprestado ao pai da moça foi motivo de<br />
barganha para a exigência de um casamento a contragosto e a separação dos amantes. O<br />
decepcionado mancebo, após perder a amada para o traficante, comprou um punhado de<br />
terra a 12 km de Iguaçu, em cima da Serra da Mantiqueira, e um dia, devido a uma forte<br />
tempestade, ficou preso no meio do caminho, dividindo com outros viajantes uma<br />
choupana de palha. Aí, oprimido pelo gemido das árvores açoitadas pelo vento, e pelos<br />
blocos de pedras rolantes, deslocadas no estrepito de raios e trovoadas, sentiu o terror<br />
próprio ao sentimento do Sublime e à complacência motivadora das dissolvências<br />
interiores no ânimo da paisagem.<br />
De todos os artífices do primeiro romantismo, Pereira da Silva foi o mais<br />
entusiasta da literatura alemã, defendendo-a, sobretudo através de biografias de Goethe<br />
e Schiller publicadas no Jornal dos debates, periódico no qual o kantista padre Feijó<br />
também colaborava. Por isto, em seus primeiros escritos ficcionais, houve uma tentativa<br />
de externar com um pouco mais de recursos as projeções de um tênue, porém<br />
perceptível, idealismo nos precipícios da Mantiqueira, revertendo as caracterizações de<br />
uma paisagem só-natureza por uma derrama emocional criadora de subjetividade. O<br />
219 PORTO-ALEGRE. “Contornos de Nápoles – fragmento das notas da viagem de um artista”. In<br />
Nitheroy, Revista Brasiliense. São Paulo: Academia Paulista de Letras, 1978, pp. 162-163.<br />
220 SILVA, João Manuel Pereira da. “Amor, ciúme e vingança”. In SOBRINHO, Barbosa Lima(Org).<br />
Precursores do conto no Brasil. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960, pp.93-121.