Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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277<br />
das aulas livremente inspiradas no criticismo kantiano. 216 Perder-se-ia tempo demais<br />
buscando as raízes do Sublime no Brasil através de fontes tão dispersas, pois<br />
amostragem bem mais substanciosa da entrada do conceito no círculo intelectual<br />
brasileiro esteve disponível para os estudantes do ensino básico do período, através de<br />
inúmeros manuais de retórica.<br />
Eduardo Vieira Martins no estudo A fonte subterrânea – José de Alencar e a<br />
retórica Oiticentista 217 levantou alguns destes pequenos volumes escritos no intento de<br />
introduzir os neófitos na arte da eloqüência e, diante dos dilemas abertos pelas novas<br />
formas expressionais, ajudá-los a compor harmonicamente a voz narrativa. Desde o<br />
final do século XVIII, os manuais de retórica vinham absorvendo as teorias da filosofia<br />
moderna e abrindo concessões às terminologias nascidas com uma maior valorização da<br />
sensibilidade para a criação verbal. Um dos primeiros compêndios a estabelecer as<br />
novas diretrizes pedagógicas do estilo, as Lectures on rethoric and belles lettres, de<br />
Hugh Blair, influenciou diretamente os brasileiros a seguirem pelo mesmo caminho e<br />
redigirem na língua pátria algo que, sem deixar de fornecer as regras da melhor<br />
expressão literária, absorvesse, a partir de 1830, alguns tópicos caros à escola<br />
romântica. Por esta brecha entrou as apreciações sobre o Sublime, vastamente<br />
comentadas por Francisco Freire de Carvalho, Miguel do Sacramento Lopes Gama e<br />
Luís José Junqueira Freire em seus respectivos cursos impressos. Nestes momentos, o<br />
nome de Edmund Burke sobressaía, muito embora Lopes Gama, no segundo tomo das<br />
Lições de eloqüência nacional, aproximasse suas noções de estética do legado de<br />
Jouffroy e Victor Cousin, conhecidos divulgadores do idealismo atenuado. 218<br />
Para a primeira geração romântica, as deliciosas elevações sentimentais da alma<br />
provocadas pelo sublime serviram para tirar um pouco da frieza da paisagem,<br />
umidecendo-a nas maravilhas de um espírito sensível ao infinito. Na Revista Niterói,<br />
Araújo Porto-Alegre deixou o relato de sua peregrinação por Nápoles solicitando um<br />
repertório já estabelecido de imagens elevadas, muitas delas registradas por estrangeiros<br />
enquanto passeavam pelo Brasil. Com os olhos de um viajante espelhado, o pintor e<br />
escritor brasileiro provou que estava afinado com a busca de novas formas apregoadas<br />
por seu melhor amigo, Gonçalves de Magalhães. Observou as belezas da lendária cidade<br />
216<br />
JAIME, “História da filosofia no Brasil”, op. cit., pp.111-116.<br />
217<br />
MARTINS, Eduardo Ferreira. A fonte subterrânea – José de Alencar e a retórica oitocentista. São<br />
Paulo: Edusp, 2005.<br />
218<br />
MARTINS, op. cit., p.77.