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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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274<br />

intuito de indicar as melhores formas de pintar a natureza como Cartas e anotações<br />

sobre a pintura de paisagem, de Carl Gustav Carus, punham nas mãos dos artistas<br />

plásticos todo um instrumental retirado das ciências naturais para compor um quadro o<br />

mais pitoresco possível, entretanto, completavam os conhecimentos tirados da<br />

fisiologia, taxonomia e ótica com a íntima excitação do ânimo, sem a qual “toda a arte<br />

está morta e acabada”. 208 Aliás, este estupor metafísico dado no encontro do homem<br />

com a natureza constituía a prerrogativa da própria ciência romântica, elemento que ia<br />

além das convenções sentimentais úteis à coloração de telas ou a descrição de capítulos<br />

pitorescos. Segundo Márcia Naxara:<br />

A ambientação do romance, os percalços vividos e sentidos pelos personagens, suas<br />

opiniões e sentimentos com relação à vida, tanto no contato mais íntimo com a natureza,<br />

como com aquilo que pode ser proporcionado pela civilização, bem conforme à idéia de<br />

que o artista trabalha no domínio do sentimento e da subjetividade, e o cientista no<br />

campo do conhecimento e da busca de uma verdade objetiva. Ao artista é lícito sentir,<br />

ao cientista conhecer – dois processos que, no entanto, se confundem e se entrelaçam,<br />

no que diz respeito ao conhecimento da natureza pelos homens, à sua problemática<br />

relação com ela, constituindo uma tessitura complexa, que não se revela ao primeiro<br />

olhar. 209<br />

A paisagem romântica brasileira, por maiores as minúcias com que foi descrita,<br />

esteve longe de um simples catálogo frio de vegetais, animais e minerais, pois sua<br />

assunção literária deveu-se a uma conjunção de temas difíceis de individualizar após a<br />

estabilização do conceito de “natureza”, tão incrustado na representação, que a simples<br />

menção da figura dispensava até a honestidade de uma emoção sentida, fruto de uma<br />

experiência realmente imersa na magnitude do espetáculo natural. Envolvendo os<br />

povos, dando-lhes a ambiência geográfica e climática a partir da qual se fixava a<br />

cultura, a importância do meio para a compleição espiritual dos povos constituiu a base<br />

das ciências humanas do período. Para a Medicina, por exemplo, os aspectos<br />

paisagísticos influíam diretamente nos temperamentos, como o indicado na obra de<br />

208 Carus mostrou que, para escrever sobre a natureza, é preciso ter um conhecimento profundo dos<br />

fenômenos físicos que a regem. Assim, para escrever um poema sobre nuvens, “fueron precisos largos y<br />

sérios estúdios atmosféricos, hubo que observar, juzgar y diferenciar, hasta alcanzar no solo um<br />

conocimiento acerca de la formación de las nubes como el que garantiza la simple observación sensorial,<br />

sino esse outro conocimiento que solo es fruto de investigación. Trás todo lo cual, la mirada del espíritu<br />

reunió y compuso las distintas facetas que irradiaba el fenômeno, y devolvió reflejado el núcleo del<br />

conjunto em uma apoteosis artística. Entendido así, el arte aparece entonces como cima de la ciência, y al<br />

escrutar com claridad y rodear com um velo de encanto los secretos de ésta, se vuelve, em el verdadero<br />

sentido de la palabra, místico, o como también lo há lhamado Goethe, órfico”. CARUS, Carl Gustav.<br />

Cartas y anotaciones sobre la pintura de paisaje. Madrid: Visor, 1992, p. 38.<br />

209 NAXARA, Márcia Regina Capelari. Cientificismo e sensibilidade romântica – em busca de um sentido<br />

explicativo para o Brasil no século XIX. Belo Horizonte: UNB, 2004, p. 241.

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