Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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trabalhado com tanto afinco durante décadas, séculos, quebrar a influência hipnótica da<br />
natureza selvagem sobre a mão seca que a descrevia e produzir um refluxo<br />
suficientemente forte para devolver à paisagem sua seiva espiritualizada, imaginativa,<br />
na verdade, afastar as palmas gigantescas e encontrar o minúsculo fantasma<br />
sustentando, na penumbra úmida de uma clareira, as fantasias de uma mente sentida.<br />
Diante do volume de leituras ecléticas assimiladas juntamente ao desejo de<br />
confeccionar símbolos expressos da nacionalidade, porém, a possibilidade de que os<br />
motivos expressivos do “Eu” se apresentassem aumentaram significativamente o perfil<br />
desta subjetividade acanhada. Tais referências não foram vãs e se, pelo contexto mesmo<br />
de uma sociedade agrária e escravocrata, as interpretações em torno do tema soaram<br />
problemáticas ou artificiosas, por outro lado indicaram um ajuste lexical e semântico<br />
para o encaixe de figuras mais próximas do entendido como fantasmagoria.<br />
Como mostramos anteriormente, a absorção dos recursos formais do idealismo<br />
no Brasil deve ser observada a partir do filtro do ecletismo espiritualista, ou seja, tal<br />
como o ocorrido na França, o fantástico, e todos os produtos literários reflexivos da<br />
subjetivação do processo narrativo, contivera-se na atenção vívida aos detalhes da prosa<br />
realista. Sob a massa compacta e difusa oferecida aos sentidos pulsava uma força vital,<br />
cuja existência, apesar de inquietante, deixou de forcejar os limites dos objetos até a<br />
desintegração, mantendo-os coesos no apaziguamento da realidade domesticada.<br />
Conciliação: esta pareceu ser a palavra que resumiu a ambição maior do sistema de<br />
Cousin e asseclas, projeto filosófico cuja metodologia serviu também para justificar as<br />
moderações contidas no contexto de formação da literatura romântica francesa e<br />
brasileira. “Vint opérer um sorte de révolution dans la critique, et, par son vif er<br />
chaleureux écletisme, réalisa une certaine unité entre des travaux et des hommes quin e<br />
se seraient pas rapprochés sans cela”, assim se expressou Saint-Beuve, um dos redatores<br />
da revista Globe, marco do romantismo francês. 202 Conforme o movimento adentrava a<br />
década de 1830, ia encontrando o “juste milieu”, um lugar dentro do qual as doutrinas<br />
clássicas e românticas – Corneille e Shakespeare, Racine e Schiller – selariam a paz<br />
para o progresso das ciências e das artes.<br />
Por toda uma tradição intelectual voltada ou imersa na cultura francesa, os<br />
românticos brasileiros aproveitaram-se dos ideais mornos promovidos pela ideologia da<br />
Restauração para compor um projeto cabível a uma monarquia com sustos de<br />
202 SCANU, Ada Myriam. “Romantisme ET fantastique dans la presse litteraire française – Du<br />
Conservarteur Litteraire a L’Artiste”. Seminaire d’Histoire des Idees: La révolution romantique, 2004.