Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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Suas apreciações sobre o gênio brasileiro, assim como a de muitos outros<br />
escritores imbuídos da missão pátria, pareceram lhe negar a inclinação para o fantástico.<br />
Seguindo por esta senda de afirmações impositivas de um caráter literário meramente<br />
descritivo, estudiosos e críticos realizaram estudos de real interesse acadêmico,<br />
descortinando as intercessões fundamentais entre a ciência naturalista e o contexto de<br />
formação de ficções no qual a prevalência de uma paisagem só-natureza anulou a reação<br />
introspectiva necessária aos fundamentos de uma fantástica romântica brasileira. Flora<br />
Süssekind, seguindo esta forte tendência de abordagem crítica, comparou os romances<br />
iniciáticos nacionais a mapas estéreis de subjetividade, endossando algumas<br />
observações realizadas por Costa Lima no livro O controle do imaginário – razão e<br />
imaginação nos tempos modernos. Refletindo sobre natureza e história nos trópicos, o<br />
teórico afirmou que aqui “o eu individual” não pôde se desdobrar “na tormenta<br />
fantasmagórica de Turner, na penetração poético-filosófica de Hörlderlin”. Mais<br />
adiante ratificou a consideração apontando um “sentimentalismo débil, fácil e<br />
autocomplacente e retoricamente inflado” dos românticos brasileiros se comparados ao<br />
“subjetivismo fácil” dos alemães. Alguns estudos mais atuais como Frestas e Arestas –<br />
a prosa de ficção do romantismo na Alemanha e no Brasil, de Karin Volobuef, mesmo<br />
não negando algum senso de interioridade às personagens, continuaram afastadas de<br />
apreciações mais detidas nesta escritura voltada para as imagens cerebrinas:<br />
em vez de procurar terras fabulosas de magia e sonho, nosso escritor romântico prefere<br />
vasculhar o mundo de forma sóbria e racional – seu intento é partir em busca da<br />
realidade, mais especificamente da realidade brasileira ao longo de algumas décadas do<br />
século XIX. 201<br />
Para ela, reafirmando as palavras de Motta Filho e Heron de Alencar, a<br />
subjetividade na literatura brasileira expressou-se somente através de uma<br />
sentimentalidade por vezes derramada – como a também defendida por Costa Lima –,<br />
dando-lhe uma pátina leve de algo muito diverso das vertigens oníricas assumidas pelo<br />
primeiro romantismo alemão. Volobuef deteve-se nas eminências de uma prosa<br />
mimética, e se em alguma hora assumira o movimento tênue de uma subjetividade<br />
entrevista, descartou-o por prever que seu diminuto gesto se perderia em meio à<br />
avassaladora presença da impessoalidade florestal. Difícil desviar o olhar de um painel<br />
201 VOLOBUEF, Frestas e arestas, op. cit., p.219.