Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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importante para um maior detalhamento da imagem perceptiva. Embora em seus<br />
escritos ficcionais – e de toda geração que fizera parte – a fantasmagoria quedasse como<br />
um esboço, a herença literária e filosófica começada por ele, caída em mentes ágeis,<br />
completaria a comunicabilidade do recurso. Com o passar do tempo, o trabalho de<br />
divulgação do ecletismo, iniciado por Monte Alverne e concluído por seu seguidor,<br />
transformaria os fantasmas em objetos comuns, deixados num canto da sala para a<br />
instrução dos filhos de família do <strong>Rio</strong> de Janeiro.<br />
4.8- Matéria idealista<br />
Os reflexos das discussões filosóficas pertinentes à recepção da intelectualidade<br />
brasileira à teoria do conhecimento, via ecletismo espiritualista, fizeram-se sentir em<br />
vários extratos culturais, sendo a literatura um dos que mais se beneficiou com os<br />
desdobramentos estéticos do “Eu”. Numa primeira leitura, os elementos em jogo na<br />
formação do beletrismo brasileiro pareceram se destacar mais por seus valores<br />
extrínsecos, paisagísticos e obsessivos no oferecimento de um catálogo frio da natureza<br />
para leitores em busca de pertencimento, do que capazes de assumir a dubiedade criada<br />
pelas sombras projetadas de uma mente inquieta. Colaboraram para este sentido de pura<br />
exterioridade descritiva os próprios responsáveis por fundamentar teórica e<br />
artisticamente as obras nascentes em período tão receptivo aos fantasmas de toda<br />
ordem. José de Alencar, no final da década de 1850, justamente no calor das leituras e<br />
interpretações em torno do ecletismo espiritualista, escreveu no corpo de seu romance A<br />
viuvinha que, ao contrário da Inglaterra, envolvida por um manto de chumbo, por<br />
névoas, vapores, e do “idealismo vago e fantástico” influente nas imaginações dos<br />
jovens alemães, o Brasil obsequiava seus artistas com as paisagens pedestres da<br />
natureza, cativava a sensibilidade pela grandeza oferecida ao nível dos olhos:<br />
Ao contrário, o nosso céu, sempre azul, sorria àqueles que o contemplavam; a natureza<br />
brasileira, cheia de vigor e de seiva, cantava a todo o momento um hino sublime à vida<br />
e ao prazer.<br />
O gênio brasileiro, vivo e alegre no meio dos vastos horizontes que o cercam, sente-se<br />
tão livre, tão grande, que não precisa elevar-se a essas regiões ideais em que se perde o<br />
espírito alemão. 200<br />
200<br />
ALENCAR, José de. Obras selecionadas de José de Alencar. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Cia. Brasileira<br />
Divulgação do livro, S/d, p. 91.