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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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267<br />

nutritiva, colocavam-se contrários à tendência sensualista proposta pelo articulista de A<br />

marmota. O posicionamento motivou uma resposta bem mais longa e fundamentada de<br />

Machado de Assis após a exposição conjunta, na qual demonstrou com muito mais<br />

clareza os conceitos até então subentendidos nas sondagens intelectuais das cartas<br />

anteriores.<br />

Em 16 de março Machado de Assis chegou com todos os subsídios para arremeter<br />

a questão. Primeiro: afirmou categoricamente sua discordância com as idéias inatas,<br />

reputadas a Descartes, embora não negasse a existência de princípios e sentimentos com<br />

tais características. Em seguida reafirmava com todas as letras:<br />

Não é pela ação destas idéias inatas, na verdadeira acepção da palavra, que se deve<br />

operar esse mundo de que fala o Sr. Jq. Sr.: isso pertence à imaginação. Para fantasiá-la<br />

e colori-lo, necessária a presença de idéias sensíveis, de imagens de corpos. Ora, o cego<br />

de nascença se bem que tenha idéias sensíveis do mundo tangível, não tem todavia, pela<br />

falta do órgão visual, os corpos e as imagens necessárias para a criação de seu mundo<br />

imaginário; logo não se dá no cego de nascença a idealização de um tal mundo. 197<br />

Esta colocação pouco acrescentou ao que veio defendendo até então, embora fosse<br />

muito instrutiva da fé do escritor nos princípios de uma consciência empírica, de base<br />

sensualista, desagradável à cúpula cada vez mais alçada às regiões celestes. Seus<br />

opositores intelectuais continuariam se mantendo na etérea intransigência espiritual se<br />

um golpe, na verdade, um artifício retórico extremamente eficiente, não fosse dado com<br />

grande senso de oportunidade. Machado melindrou-se ao ser acusado de materialista – o<br />

que, em nenhum momento seus opositores o fizeram categoricamente – por apontar<br />

como prova divina as grandezas do mundo físico. E continuou:<br />

Ora, quem nos ler com atenção há de convencer-se da nossa inocência; assim como<br />

quem ler os artigos de nosso adversário, reconhecera facilmente no seu autor, uma<br />

veneração fanática pelas doutrinas espiritualistas. Nós não somos nem espiritualista<br />

puro; nem materialista; harmonizamos as doutrinas de ambas as escolas e seguimos<br />

assim em ecletismo com o qual nos damos às mil maravilhas. 198<br />

De forma cabal, Machado de Assis deu a senha para pôr fim às discussões.<br />

Recuou vitoriosamente até as aprazíveis regiões da conciliação, abrindo mão do<br />

contínua, que a luz está morta para ele; o seu desespero há de ser imenso, julgando que os objetos que viu<br />

se hão tornado mais lindos, que a primavera há de estar sempre sobre a terra, e entretanto ele privado de<br />

ver tudo isso que uma vez admirou!”Ibidem, pp.58-59.<br />

197<br />

ASSIS, op. cit., p. 61.<br />

198<br />

ASSIS, op. cit., p. 62.

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