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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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observação rigorosa”, uma psicologia mista, que levasse em conta os elos do organismo<br />

pensante com a sociedade, a natureza e a divindade. 177 O próprio mentor do romantismo<br />

brasileiro daria mostras de sua particular visão da teoria do conhecimento realizando seu<br />

próprio livro, em 1858, Fatos do espírito humano 178 , sintetizando estas afinidades<br />

intelectuais dos brasileiros com o pensamento da corrente francesa<br />

Não é com os olhos pregados no mundo exterior, com todos os sentidos abertos e<br />

atentos aos fenômenos sensíveis, que há de o espírito humano conhecer a sua própria<br />

natureza, os seus atributos e o seu destino; é recolhendo-se no santuário de sua<br />

consciência, refletindo sobre os seus próprios atos, examinando os fatos atestados por<br />

eles, que poderá penetrar nesse mundo espiritual da metafísica, de que ele é um dos<br />

habitantes que por este mundo exterior viaja, esquecido às vezes da sua nativa pátria,<br />

donde veio, que sorte o espera, e tomando esta peregrinação temporária por terras<br />

estranhas como o fim único de sua existência. 179<br />

No caso, o pensamento de Gonçalves de Magalhães abre perspectivas<br />

animadoras para que deixemos as exaustivas citações de entrechos filosóficos e,<br />

finalmente, iniciemos uma possível afinação dos princípios do ecletismo absorvidos<br />

pelos literatos brasileiros com o processo de criação da fantasmagoria. Sua obra<br />

ficcional e poética não escapou certamente à percepção tão aguda do sentimento íntimo<br />

induzido por reflexões a respeito da natureza do pensar, porém ainda resta um exemplo<br />

muito curioso da intensa receptividade da corrente eclética no Brasil, e justamente no<br />

ano de lançamento de Fatos do espírito humano. Tratou-se de uma discussão em que se<br />

envolveu um jovem que dali a alguns anos escreveria romances marcantes pela fineza<br />

da abordagem psicológica: Machado de Assis.<br />

4.7- Os olhos de Machado<br />

Desde que Afrânio Coutinho resolvera prestar seu humilde tributo à obra de um<br />

dos maiores escritores brasileiros com o livro “A filosofia de Machado de Assis” 180 ,<br />

177 MARTINS, História da inteligência brasileira – vol II, op. cit., pp.259-261.<br />

178 “Se o ecletismo é uma filosofia de conciliação e reconstrução que se opõe ao ceticismo, o mitismo, é<br />

uma doutrina sentimental que vive com o favor do ceticismo, que lhe serve de ponto de apoio. Quando<br />

falta ao enfermo a esperança de se curar, ou ao viajante em perigo todos os meios de se salvar, lembramse<br />

ambos dos contos misteriosos que encantam a sua infância e inexperiência, e fazem votos e súplicas,<br />

esperando evitar a morte por algum meio sobre-humano e imprevisto. Assim se realizassem sempre essas<br />

esperanças”. MAGALHÃES, D.J. Gonçalves de. Fatos do espírito humano. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Vozes, 2004,<br />

p. 81.<br />

179 MAGALHÃES, op. cit., p. 293.<br />

180 COUTINHO, Afrânio. A filosofia de Machado de Assis. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Casa Editora Vecchi, 1940.

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