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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Educação Industrial” 174 –, colaborou no sentido de torná-lo uma espécie de tutor<br />

ideológico do grupo na França. 175 Com ou sem o aval do grande pensador lusitano do<br />

século XIX, a escalada do sistema eclético dentro do meio intelectual brasileiro tornouse<br />

um fato indiscutível na década de 1840 e 1850, sendo absorvido, inclusive, na<br />

pedagogia dos seminários. 176 Neste período, o sistema acabou absorvido pelas<br />

instituições de ensino das principais capitais do país.<br />

Grande parte dos esforços de integrar os novos conceitos filosóficos contidos<br />

nos compêndios ecléticos, disseminando o materialismo atenuado a partir da base do<br />

ensino da capital do Império, partiu do próprio Magalhães, líder da primeira geração<br />

romântica e pupilo predileto de Monte Alverne. Convidado pelo Imperador a abrir o<br />

curso de filosofia do colégio Pedro II, deixou publicado o discurso proferido na ocasião,<br />

em 14 de fevereiro de 1842, considerado o documento oficializador do ecletismo como<br />

sistema filosófico no Brasil, no qual rejeitava o empirismo como “coisa repugnante”.<br />

Adotava como manual de cadeira o Cours de philosophie, do discípulo de Jouffroy e<br />

Cousin, Philibert Damiron, cujo primeiro volume era consagrado à psicologia, que,<br />

segundo o futuro lente, objetivava “conhecer a alma na sua natureza, ou seja, nos seus<br />

atributos e relações”. Intentava dar “um caráter de uma teoria fundada sobre a<br />

174 PINHEIRO, Silvestre. “Idéia de uma Sociedade Promotora de Educação Industrial”. In Nitheroy,<br />

Revista Brasiliense. São Paulo: Academia Paulista de Letras, 1978, pp. 131-137.<br />

175 A influência do ecletismo espiritualista sobre o pensamento de Silvestre Pinheiro pode ser constatado<br />

no valor que o filósofo português deu à moralidade, ou seja, às representações qualitativas na formação<br />

do entendimento. Segundo Maria Helena Pessoa de Queiroz, “a qualidade é um termo que designa todo e<br />

qualquer objeto de nossas idéias e a quantidade passa a ser uma qualidade positiva ou negativa, que, de<br />

certa forma, é uma criação do espírito, até mesmo uma nomenclatura imprecisa e convencional. Por isso,<br />

em S. Ferreira é afirmada a supremacia das Ciências Morais sobre as Matemáticas. O esforço do pensador<br />

lusitano de não restringir a responsabilidade à subjetividade, bem como sua admissão das questões morais<br />

como dotadas do mesmo nível de validade das ciências da natureza, em que pesem as limitações inerentes<br />

à perspectiva empirista, desempenhariam papel essencial na influência de Maine de Biran, através de V.<br />

Cousin”. QUEIROZ, Maria Helena Pessoa de. “A teoria da ciência e da moralidade em Gonçalves de<br />

Magalhães”. Tese submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Filosofia. <strong>Rio</strong> de<br />

Janeiro, 1976, Pontifícia Universidade Católica do <strong>Rio</strong> de Janeiro.<br />

176 Especialmente na década de 1850, justamente no momento de maior vigor na publicação de obras<br />

divulgadoras do ecletismo espiritualista, alguns seminários brasileiros confeccionaram seus próprios<br />

compêndios no intuito de apresentar aos noviços a perspectiva de uma realidade psicológica. A<br />

publicação Tractado dos actos e dos pecados humanos, por exemplo, visava regular as ações dos homens,<br />

“segundo as máximas da equidade natural, as leis da Religião e do Estado”. Resgatando alguns tópicos do<br />

sistema gnosiológico de São Tomás de Aquino (dividia o estudo da psicologia em racional e<br />

experimental), o compêndio denominava os fatos psicológicos em “exercício ou uso atual das nossas<br />

faculdades espirituais e corporais em si mesmo e sem alguma outra relação, com ato de pensar, de querer,<br />

o movimento das partes do corpo necessário para as ações exteriores, tal como o dos órgãos da fala”.<br />

Segundo Marina Massimi a maioria dos tratados utilizados especialmente no Seminário São José (<strong>Rio</strong> de<br />

Janeiro) e o Seminário Episcopal Sant’Ana (São Paulo) possuíam uma seção de psicologia “geralmente<br />

inspirada na doutrina tomista e, em muitos casos, com influência do espiritualismo francês”, dentro da<br />

qual alguns conhecimentos adquiridos na prática da medicina e da teoria do conhecimento eram aceitos.<br />

MASSIMI, Marina. “O ensino da psicologia nos seminários episcopais do <strong>Rio</strong> de Janeiro e São Paulo, no<br />

século XIX”. Revista da SBHC, n.9, pp.41-50, 1993.

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