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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Alguns leves sinais presentes no sistema de Silvestre Pinheiro denotavam certa<br />

superação de um materialismo excessivo como, por exemplo, a composição da teoria do<br />

conhecimento conjugada à estética, uma preocupação mais pausada sobre a dinâmica<br />

associativa da mente, especialmente na memória. Tomada em sua totalidade, entretanto,<br />

o filósofo português manteve-se com maior riqueza de detalhes sobre um empirismo<br />

convicto da passividade da alma frente à movimentação incessante de órgãos externos e<br />

internos. Aliás, seu posicionamento com relação ao idealismo ficaria bem mais claro no<br />

momento em que revisou as Preleções filosóficas, publicando-as com o nome de<br />

Noções elementares de filosofia (1838), justamente no momento em que o ecletismo<br />

espiritualista gozava de enorme prestígio na Europa e no Brasil. Na época residia em<br />

Paris e se preocupava em manter os jovens longe do “tenebroso barbarismo dos<br />

Heráclitos da Alemanha” e da “brilhante fantasmagoria dos da França”, atraindo-os para<br />

teorias menos obscuras e mais ancoradas numa metodologia rigorosa. 172 Em uma nota<br />

colocada na seção dedicada à psicologia, chamou a atenção para a falta de fundamento<br />

com que muitos dos sensualistas eram criticados pelos filósofos então em voga na<br />

França:<br />

para obterem a fácil glória de debelar um Aristóteles, um Locke, um Condillac, certos<br />

escritores modernos increparam aqueles grandes filósofos de terem negado ou<br />

desconhecido no nosso espírito idéias e sentimentos que de certo não são o resultado da<br />

experiência, e, portanto, se não podem confundir com as que só depois da experiência e<br />

por efeito da reflexão costumam ter lugar. Tais são, dizem eles, a idéia do belo, que nos<br />

encanta desde a primeira vez que o encaramos; a do útil, que por instinto nos faz correr<br />

para o que é indispensável a nossa conservação e nos faz evitar o que lhe é contrário; e,<br />

enfim, a do honesto, que nos deleita na presença de qualquer ato virtuoso, e nos<br />

horroriza com a vista de qualquer crime. Esta increpação só pode ser feita de boa fé por<br />

quem não tiver lido atentamente os escritos daqueles filósofos. 173<br />

Em parte o temor de Silvestre Pinheiro justificou-se, pois, se a adesão da<br />

juventude luso-brasileira aos “Heráclitos da Alemanha” nunca chegou a ser<br />

significativa, as simpatias com as brilhantes fantasmagorias francesas gerariam os<br />

debates mais calorosos e os compêndios mais fundamentados dali a alguns anos no<br />

Brasil. Até que ponto a relação com o ecletismo incomodou o filósofo português ainda<br />

está para ser descoberto, já que sua boa relação com Victor Cousin e o acolhimento que<br />

deu a geração da Revista Niterói em Paris, chegando a participar com um artigo para a<br />

publicação inaugural do romantismo brasileiro – “Idéia de uma Sociedade Promotora de<br />

172 PINHEIRO, op. cit., pp.19-20.<br />

173 Idem, pp. 54-55.

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