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Preleções filosóficas(1813) e, em Paris, Essay sur la Psychologie(1828) e o Noções
elementares de filosofia(1839), novamente exilado por reviravoltas políticas.
Em toda a obra filosófica de Silvestre Pinheiro residia uma vontade de superação
das abordagens basicamente operativas do conhecimento, presentes nos compêndios de
Verney e Genovesi, para erigir um sistema organizado a partir dos valores das próprias
regras do falar e do entender. Ajudou na forma concisa e direta com que Pinheiro
transitou pelo materialismo o método forçoso do reformador português e conciliador do
eclético italiano, sem os quais a abordagem científica da percepção mobilizaria o ódio
das obras blasfemas. Com o terreno preparado por duas gerações de pensadores, pôde
evitar os preâmbulos ou justificativas acumuladas nos litígios da secularização do livrepensar.
Locke, à revelia da censura, ganhara espaço nas estantes das bibliotecas
coloniais e suas teorias, antes polêmicas, imiscuíram-se na prática das ciências
incentivadas por Dom João VI. Neste clima de relativa abertura ao pensamento
científico, o filósofo português encontrou atmosfera ideal para discorrer ou reavaliar os
produtos de sua imaginação sem recorrer a nenhum aval além daquele advindo da sua
própria consciência.
Preleções filosóficas dividia-se em três grandes domínios: o processo de
constituição do entendimento, compreendido como teoria do discurso e da linguagem
(Lógica,Gramática Geral e Retórica); o saber do homem, deduzindo-o das sensações
(Estética, Eloqüência, Poesia, Ética e Direito Natural); sistema do mundo,
interpretando-o a partir das propriedades gerais dos entes (Ontologia, Nomenclatura das
Ciências Físicas e Matemáticas). A teoria do conhecimento inseria-se na segunda parte
do sistema e se baseava nos pressupostos sensualistas onde qualquer idéia correspondia
a uma sensação correspondente, decorrida da polarização exterior/interior própria ao
empirismo tradicional. Segundo Nady Moreira:
a sensação que continua a existir no espírito, depois da ação dos órgãos externos, e só
por efeito dos internos, chama-se idéia”. Como as sensações chegam desordenadamente
a nós, oriundas do mundo exterior, ativando um ou mais sentidos ao mesmo tempo, o
primeiro passo, a bem dizer intelectual da nossa mente é ordenar, agrupar essas
sensações que virão a gerar tanto idéias materiais como intelectuais. As idéias que
temos dos corpos, como a extensão, peso, etc. são materiais e as idéias que temos do
espírito chamam-se intelectuais, isto é, aquelas idéias abstratas em que consideramos
apenas algum ou alguns dos componentes dessas idéias. 171
171 SILVA, Nady Moreira Domingues da. “O sistema filosófico de Silvestre Pinheiro Ferreira”.
Dissertação de mestrado/Departamento de Filosofia/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
23 de janeiro de 1978, p. 35.