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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Considerando o grau de seriedade com que se admitiam certas extravagâncias de<br />

Feijoo na lusitânia, entende-se melhor os desconcertos que meras reavaliações de<br />

métodos de estudo poderiam causar, sobretudo aqueles baseados na observação dos<br />

fenômenos físicos e céticos na admissão de maravilhas incalculadas. Ainda assim, com<br />

toda a bagagem adquirida na aniquilação do maravilhamento católico, Verney evitou<br />

citar o nome de Locke durante toda a dissertação e somente em 1868, na História da<br />

filosofia em Portugal, Lopes Praça ousou fazer a conexão evidente dos conceitos<br />

presentes no compêndio ibérico com os do Ensaios sobre o entendimento humano. 164 A<br />

falta tornava-se mais sentida pelo fato do reformador português realizar um breve<br />

retrospecto da filosofia moderna na introdução, citando Galileu, Descartes, Gasendo,<br />

Newton, sem ao menos mencionar o nome do filósofo a quem recorreu inúmeras vezes<br />

para legitimar o empirismo de seu método. Idéias simples e compostas, os modos<br />

simples e mistos, as relações entre as idéias, os conceitos-chave presentes no Ensaio do<br />

entendimento humano confluíram indiscutivelmente para dar a coerência no momento<br />

de indicar o processo material do entendimento em O verdadeiro método de estudar.<br />

Mesmo proibido de ser editado em Portugal durante todo o século XVIII, as<br />

teorias canonizadas por Locke No Ensaio sobre o entendimento humano pairaram nos<br />

compêndios adotados no período como uma fonte subentendida e jamais anunciada.<br />

Possivelmente Verney achou que assumindo o empirismo com a naturalidade das idéias<br />

anônimas, sem referência direta ao responsável pela ruptura com o inatismo, tornaria<br />

suas afirmações um pouco mais apetecíveis aos compatriotas. Enganou-se, pois trinta<br />

anos mais tarde, quando o Marquês de Pombal iniciou a reforma pedagógica capaz de<br />

modernizar o ensino em Portugal escolheu como compêndio oficial de lógica o volume<br />

escrito pelo italiano Antônio Genovesi, cuja linha de pensamento adequava-se mais aos<br />

objetivos de uma transição menos traumática com a mentalidade escolástica. 165 Tal<br />

como Benito Feijoo, o pensador italiano tentou manter a substância das idéias inatas<br />

protegidas por um binarismo cartesiano, denominando-as de “naturais”. Nutria uma<br />

164 JUNIOR, Antônio Salgado. “O sistema filosófico-cultural em Verney”. In VERNEY, op. cit., p.XXX.<br />

165 Para Celina Junqueira, os empiristas ingleses foram ignorados por Pombal em sua reforma da<br />

educação em Portugal por representarem no imaginário lusófono intelectuais ligados a um Império que<br />

durante séculos explorou Portugal, impondo tratados mercadolólogicos pouco equânimes, levando o país<br />

ao atraso econômico e cultural. O caráter polêmico de Verney também colaborou para deixá-lo fora da<br />

listagem de material didádico para o ensino da juventude ibero-portugueas. O ministro português voltouse,<br />

então, para a Itália, onde na época grande número de filósofos e cientistas saíam para ocupar cadeiras<br />

de ensino em toda a Europa. Seus olhos caíram sobre o compêndio de Genovesi, professor convidado da<br />

Faculdade de Nápoles para lecionar a primeira cadeira de economia política criada na Europa.<br />

JUNQUEIRA, Celina(Prefácio) in GENOVESI, Antônio. A instituição da lógica. <strong>Rio</strong> de Janeiro:<br />

Pontifícia Universidade Católica/Conselho Federal de Cultura, 1977, p.7.

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