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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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253<br />

Verdadeiro Método de Estudar, tomou para si a tarefa de modernizar os conteúdos e<br />

práticas de ensino portugueses, então baseadas numa lógica engessada nos universais e<br />

numa didática modorrenta, sem empatia com uma ciência de aplicação prática. No livro<br />

oitavo expôs uma teoria das idéias coadunada com a modernidade, rechaçando o<br />

inatismo e se dispondo a escutar aqueles que ainda o defendiam com certa dose de<br />

ceticismo. “Os que defendem idéias inatas, que mostrem alguma que não entre pelos<br />

sentidos, ou não se deduza das idéias que entraram por eles”, desafiou. 159<br />

Não sem motivo, ao final da carta Nona do Volume III de seus estudos<br />

filosóficos, ainda dedicou um apêndice inteiro a questionar o valor da obra do Padre<br />

Feijoo 160 , filósofo e ensaísta espanhol muito influente em toda a península ibérica, que<br />

combatia abertamente a filosofia moderna, muito embora o religioso estivesse disposto<br />

a ler atentamente alguns de seus artífices, especialmente a Descartes, por quem nutria<br />

sentimentos contraditórios e afinidades inconfessadas. 161 “Quem tem uma boa lógica na<br />

cabeça, e alguma erudição, ri-se dos que admiram o Feijóo”, 162 e este riso confessado<br />

deve ter calado fundo nos inúmeros leitores do Teatro crítico, obra enciclopédica que se<br />

propunha a falar desde as novas teorias científicas sobre a luz até a existência de Sátiros,<br />

Tritões & Nereidas:<br />

Yo creo, que hubo Sátiros, y acaso los hay hoy; pero no Sátiros de esta nota, no Sátiros<br />

racionales, o em caso racionales, no Cristianos, no con habla, y que vivan hermanos, y<br />

como congregación. 163<br />

159<br />

VERNEY, Luís António. Verdadeiro método de estudar – Vol.III. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1950,<br />

pp. 82-83.<br />

160<br />

VERNEY, op. cit., pp. 158-163.<br />

161<br />

Em vários trechos de sua extensa obra, Feijóo discordou de Locke, pois acreditava na atuação<br />

misteriosa de um outro sentido corpóreo inominado, capacitando os homens a perceberem o tempo e a<br />

sentirem as mais variadas emoções, o que, para ele, pesava a favor da constituição de algo inato no<br />

interior da natureza da mente. Admitia-o sem avançar o suficiente sobre o que considerava inexplicável:<br />

os mecanismos da imaginação, que produziam espectros noturnos e ilusões realistas “esto se hace por um<br />

mecanismo enteramente incomprehensible”. Em sua Nova potência sensitiva, Feijó defendeu a natureza<br />

complexa da percepção do tempo: “há um objeto real e verdadeiro, cuja existência percebemos, e ainda<br />

cuja dimensão conhecemos sem que esta percepção se faça mediante alguma das potências que até agora<br />

apontaram os filósofos(...) O objeto de que falo é este fluido, volátil e fugitivo, que chamamos tempo(...)<br />

Com que sentido corpóreo percebemos este objeto material, ou por qual dos cinco conhecidos entra sua<br />

espécie de alma? Por nenhum deles, sem dúvida, pois nem o vemos, nem o ouvimos, nem lhe cheiramos,<br />

nem lhe degustamos, nem lhe tocamos. Logo há outra potência sensitiva, destinada a sua percepção(...)<br />

Outra interior, que é essa nova potência representativa, a quem podemos chamar de relógio natural”.<br />

LLAVONA, Rafael & BANDRÉS, Javier. “La psicologia en la obra de Benito G.Feijoo”. Psicothema,<br />

1995. Vol. 7, n. 1, pp. 189-217.<br />

162<br />

VERNEY, op. cit., p. 161.<br />

163<br />

FEIJÓO, Benito Jerónimo. “Teatro Crítico Universal”. Biblioteca Feijoniana del Proyecto Filosofia em<br />

español. www.filosofia.org//bjf/bjft000.htm. Acessado em 28 de setembro de 2008.

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