Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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Verdadeiro Método de Estudar, tomou para si a tarefa de modernizar os conteúdos e<br />
práticas de ensino portugueses, então baseadas numa lógica engessada nos universais e<br />
numa didática modorrenta, sem empatia com uma ciência de aplicação prática. No livro<br />
oitavo expôs uma teoria das idéias coadunada com a modernidade, rechaçando o<br />
inatismo e se dispondo a escutar aqueles que ainda o defendiam com certa dose de<br />
ceticismo. “Os que defendem idéias inatas, que mostrem alguma que não entre pelos<br />
sentidos, ou não se deduza das idéias que entraram por eles”, desafiou. 159<br />
Não sem motivo, ao final da carta Nona do Volume III de seus estudos<br />
filosóficos, ainda dedicou um apêndice inteiro a questionar o valor da obra do Padre<br />
Feijoo 160 , filósofo e ensaísta espanhol muito influente em toda a península ibérica, que<br />
combatia abertamente a filosofia moderna, muito embora o religioso estivesse disposto<br />
a ler atentamente alguns de seus artífices, especialmente a Descartes, por quem nutria<br />
sentimentos contraditórios e afinidades inconfessadas. 161 “Quem tem uma boa lógica na<br />
cabeça, e alguma erudição, ri-se dos que admiram o Feijóo”, 162 e este riso confessado<br />
deve ter calado fundo nos inúmeros leitores do Teatro crítico, obra enciclopédica que se<br />
propunha a falar desde as novas teorias científicas sobre a luz até a existência de Sátiros,<br />
Tritões & Nereidas:<br />
Yo creo, que hubo Sátiros, y acaso los hay hoy; pero no Sátiros de esta nota, no Sátiros<br />
racionales, o em caso racionales, no Cristianos, no con habla, y que vivan hermanos, y<br />
como congregación. 163<br />
159<br />
VERNEY, Luís António. Verdadeiro método de estudar – Vol.III. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1950,<br />
pp. 82-83.<br />
160<br />
VERNEY, op. cit., pp. 158-163.<br />
161<br />
Em vários trechos de sua extensa obra, Feijóo discordou de Locke, pois acreditava na atuação<br />
misteriosa de um outro sentido corpóreo inominado, capacitando os homens a perceberem o tempo e a<br />
sentirem as mais variadas emoções, o que, para ele, pesava a favor da constituição de algo inato no<br />
interior da natureza da mente. Admitia-o sem avançar o suficiente sobre o que considerava inexplicável:<br />
os mecanismos da imaginação, que produziam espectros noturnos e ilusões realistas “esto se hace por um<br />
mecanismo enteramente incomprehensible”. Em sua Nova potência sensitiva, Feijó defendeu a natureza<br />
complexa da percepção do tempo: “há um objeto real e verdadeiro, cuja existência percebemos, e ainda<br />
cuja dimensão conhecemos sem que esta percepção se faça mediante alguma das potências que até agora<br />
apontaram os filósofos(...) O objeto de que falo é este fluido, volátil e fugitivo, que chamamos tempo(...)<br />
Com que sentido corpóreo percebemos este objeto material, ou por qual dos cinco conhecidos entra sua<br />
espécie de alma? Por nenhum deles, sem dúvida, pois nem o vemos, nem o ouvimos, nem lhe cheiramos,<br />
nem lhe degustamos, nem lhe tocamos. Logo há outra potência sensitiva, destinada a sua percepção(...)<br />
Outra interior, que é essa nova potência representativa, a quem podemos chamar de relógio natural”.<br />
LLAVONA, Rafael & BANDRÉS, Javier. “La psicologia en la obra de Benito G.Feijoo”. Psicothema,<br />
1995. Vol. 7, n. 1, pp. 189-217.<br />
162<br />
VERNEY, op. cit., p. 161.<br />
163<br />
FEIJÓO, Benito Jerónimo. “Teatro Crítico Universal”. Biblioteca Feijoniana del Proyecto Filosofia em<br />
español. www.filosofia.org//bjf/bjft000.htm. Acessado em 28 de setembro de 2008.