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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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hoffmannianos jamais fizeram com que os leitores abrissem mão de um seguro<br />

empirismo para acolhê-los, mantê-los retidos por uma força física, gravitacional, sem<br />

comprometer o encanto da féerie. Desde que Mme de Staël introduzira no país a teoria<br />

filosófica do primeiro romantismo alemão, em 1813, a contrapartida para que seus<br />

compatriotas recebessem o ideário do “lado noturno da natureza” fora uma certa<br />

atenuação em seus postulados, conformando-os a um leve estremecimento da alma. Em<br />

seu livro emblemático, De l’Allemagne, sugeriu que “a vigorosa exageração dos<br />

alemães mesclada ao bom gosto francês” daria às verdades contidas no idealismo<br />

comunicação mais direta e inteligível. Gautier expressou muito bem este estado de<br />

espírito ao afirmar o natural despreparo do povo francês ao fantástico, caso o estilo<br />

escapasse aos meandros do real e não fosse equilibrado pela exigência de uma<br />

explicação racional antes do arremate final das histórias arrepiantes. 156<br />

Cruzando as informações acima com as diretrizes ecléticas, a índole conciliatória<br />

presente no sistema passa a corresponder a um motivo recorrente no projeto intelectual<br />

do primeiro romantismo francês como um todo. O modelo inseria-se num contexto de<br />

sondagem retórica do gosto. Intencionava quebrar as reservas dos franceses ao<br />

idealismo e, conseqüentemente, oxigenar o pensamento sensualista – com todas as suas<br />

implicações literário-filosóficas – na atmosfera onírica da subjetividade, conseguindo-o<br />

pelo viés de uma ideologia de natureza conservadora. Como era de se esperar, pela<br />

própria colocação central do país no âmbito cultural europeu, as possibilidades<br />

ficcionais advindas com as mesclas franco-germânicas não se contiveram em suas<br />

próprias fronteiras: espalharam-se em direção à periferia. E, diluído pelas considerações<br />

ecléticas de Victor Cousin, as dissolvências inquietantes do “Eu” chegaram aos trópicos<br />

e quebraram a linha que levou o aristotelismo escolástico ao empirismo mitigado,<br />

construindo uma nova via para o pensamento brasileiro.<br />

No Brasil, as sistematizações filosóficas promovidas por Victor Cousin<br />

prosseguiram neste mesmo sentido de compor um idealismo pacificado na quietude da<br />

matéria; o toque realista dentro do qual o descrito guardaria algo mais palpável que os<br />

fumos mal desenhados da imaginação também influenciaram no modo como os<br />

brasileiros encararam a literatura fantástica e a divulgaram para os leitores na América<br />

Portuguesa. Análises muito fixadas num discurso comprometido com a afirmação de<br />

índices ilustrativos da nacionalidade – descrição de paisagem, dos tipos populares, do<br />

156 ALAMÁN, op. cit., p.18.

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