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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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espiritualidade secular, na qual a voz e a figura espectral dos filósofos ocupavam o lugar<br />

dos anjos mensageiros e dos demônios tentadores. Nas idas e vindas das sombras<br />

impalpáveis do pensamento, Victor Cousin saiu uma vez mais vitorioso de modo que o<br />

eco das discussões motivadas por sua obra, juntamente com a de Auguste Comte,<br />

permaneceu reverberando na atmosfera das bibliotecas brasileiras onde, um dia,<br />

imperou como um dos pensadores mais influentes do século XIX.<br />

Com este pequeno levantamento histórico, pois muitas das fontes sobre o<br />

ecletismo ainda estão para ser levantadas e devidamente analisadas, a perplexidade não<br />

deixa de espelhar o vislumbre de uma imortalidade por demais aleatória em suas<br />

escolhas. O fato de Cousin ser hoje muito mais desconhecido do que Nietzsche, autor<br />

que passou em branco para a filosofia brasileira do século XIX, deixou no ar algumas<br />

questões de ordem ideológica, mais do que conceituais, para o estabelecimento de um<br />

corpus que expressasse os caminhos do pensamento ocidental. Como um filósofo tão<br />

influente para a filosofia brasileira oitocentista, a ponto de motivar intensos debates na<br />

imprensa cultural – tornando-se até personagem de um diálogo filosófico –, foi relegado<br />

a um esquecimento tão evidente e, se guardarmos todo o seu potencial hermenêutico,<br />

prejudicial para o aprofundamento de algumas questões, inclusive no âmbito da história<br />

literatura? Apontar as vicissitudes de um sistema filosófico deficiente e pouco original,<br />

quiçá medíocre, não responde totalmente à pergunta, já que muitos deles sobreviveram e<br />

continuaram constando nos currículos acadêmicos, ao contrário do ecletismo<br />

espiritualista, cujos livros mais expressivos há décadas, há séculos estão fora dos<br />

catálogos editoriais.<br />

La conséquence de tout ceci, Messieurs, est que si la constitution et les lois françaises<br />

contiennent tous les eléménts opposés fondus dans une harmonie qui est l’eprit même<br />

de cette constituition et de ces lois, l’esprit de cette constitution est (passez-moi<br />

l’expression) um véritable éclectisme. Cet esprit, em se développant, s’applique à toutes<br />

choses. Déjà il se réfléchit dans notre littérature, qui contient elle-même deux éléments<br />

qui peuvent et qui doivent aller ensemble, la légitimité classique et l’innovation<br />

romantique.(...)L’éclectisme est la modération dans l’ordre philosophique; et la<br />

modération qui ne peut rien dans les jours de crise est une nécessité après. 148<br />

Lendo este pequeno trecho retirado do último capítulo de L’introduction a<br />

l’histoire de la philosophie, de Victor Cousin, fica patente as afinidades que o<br />

romantismo brasileiro encontrou junto aos temas propostos pelo ecletismo espiritualista.<br />

O que muitos críticos contemporâneos julgaram uma incapacidade congênita dos<br />

148 COUSIN, Victor. L’introduction a l’histoire de la philosophie. Paris: Didier, 1861, p.433

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