Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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A quem hoje ainda seguir o materialismo pede-se o seguinte:<br />
1° Que nos demonstre haver contradição na existência do espírito pensante;<br />
2° Que nos prove como o pensamento é um movimento; se é em linha reta, ou diagonal,<br />
ou perpendicular, ou horizontal, ou em rotação etc.<br />
3°Que nos mostre se a liberdade é atributo da matéria; e se há alguma analogia de<br />
liberdade em algum dos corpos de que conste o universo, como os planetas, os cometas,<br />
etc.<br />
4°Que nos faça conhecer, a priori, os elementos constitutivos do cérebro, e até que grau<br />
podem esses elementos sentir, conhecer e querer, e ser livres em obrar e reagir um sobre<br />
os outros sem exaurirem suas potências.<br />
5°Que nos faça conhecer o quilate material desta vida, que pela morte deixa o cérebro,<br />
ou sendo mesmo que o cérebro, ou não sendo. 137<br />
Muitas destas provocações de Murici seriam hoje respondidas com serenidade,<br />
especialmente a 5° questão, por todo o avanço a que chegou a neurociência nos tempos<br />
atuais, porém, na época, o funcionamento da mente representava um dos grande<br />
mistério da natureza. Até então a busca obsessiva do empirismo científico pelos órgãos<br />
produtores das diversas faculdades humanas (emoção, imaginação e intelecção) tinha<br />
profanado corpos putrefatos, retirado cérebros fleugmáticos e se perdido no labirinto do<br />
corpo sem defasar as vívidas imagens de seu funcionamento. O desafio proposto soou<br />
como um sarcasmo dirigido especialmente àqueles que professavam a clínica moderna,<br />
absorvendo e divulgando o ideário do materialismo científico através dos cursos de<br />
Medicina já por esta época em plena atividade no <strong>Rio</strong> de Janeiro e na Bahia. Portanto, a<br />
resposta de um médico, o Dr. Manoel Genésio de Oliveira, dois meses depois de<br />
lançados os petardos filosóficos veio de encontro às expectativas dos espiritualistas<br />
maquinadores das polêmicas intelectuais.<br />
O Dr. Manoel Genésio de Oliveira respondeu parcialmente à bateria de questões<br />
complexas propostas por Murici. Preferiu atacar a ideologia subsistente por trás de todas<br />
elas ao invés de impor o escândalo de um organismo auto-suficiente nas páginas de O<br />
crepúsculo. Pôs em dúvida a eternidade do espírito, a independência da mente sobre o<br />
corpo e encerrou as suas considerações apontando as contradições “na existência do<br />
espírito pensante, e que o sistema dos espiritualistas, abalado em seus fundamentos, não<br />
pode gozar uma existência estável”. 138 No todo, o douto cidadão confeccionou uma<br />
prosa pouco dignificante da sua formação baseada na observação científica, no catálogo<br />
das doenças e na ligação de distúrbios psíquicos a lesões ou subtrações de órgãos e<br />
nervos. Estranhamente, conforme a polêmica ia se estendendo, seus argumentos foram<br />
137 JUNQUEIRA, op. cit., p. 22.<br />
138 Idem, pp. 22-23.