Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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Dos preparos teóricos para o suporte do liberalismo econômico até os destraves da<br />
mente para o aceite da fantasia, a corrente eclética potencializou as discussões que<br />
estavam no cerne da afirmação do sujeito, mas, ao contrário do empirismo iluminista,<br />
afirmava-o dentro de um contexto de afinidade metafísica. Nenhuma outra vertente<br />
filosófica suscitara tamanha comoção no meio intelectual brasileiro – no século XIX,<br />
somente o positivismo iria superá-lo –, absorvendo os periódicos e folhas culturais em<br />
discussões que giravam em torno da própria natureza do pensamento humano.<br />
Empiristas espirituais e espiritualistas empíricos vinham até a imprensa externar<br />
vividamente suas opiniões sobre a imaterialidade da alma ou sobre as impossibilidades<br />
de sustentação de uma mente cujo mecanismo se bastava na impressão interna de<br />
objetos físicos, demonstrando que os princípios básicos da teoria do conhecimento já<br />
amadureciam a ponto de criar as dissolvências oriundas da subjetividade. Segundo<br />
Antônio Paim:<br />
É certo que a possibilidade do debate filosófico se deve atribuir à ascendência do<br />
liberalismo de índole moderada, dando início, nos começos dos anos quarenta, à<br />
reforma política que iria por fim aos ciclos das revoluções armadas. A circunstância se<br />
reflete no aparecimento dos periódicos de cunho cultural, encerrando o monopólio<br />
quase virtual do periodismo político nos últimos decênios. Contudo, a presença dos<br />
ecléticos espiritualistas determinou que nesse movimento os temas filosóficos viessem a<br />
assumir a posição que de direito lhes correspondia. 136<br />
Paim, assim como muitos estudiosos do período, vinculou as intensas discussões<br />
em torno da recepção do ecletismo espiritualista a um período de formação liberal, em<br />
que os periódicos culturais encontraram sua vocação pedagógica, colocando-se como<br />
um instrumento de divulgação das ciências, da filosofia, e se abrindo aos debates de<br />
ordem intelectual. O fenômeno das polêmicas surgiu praticamente junto com a imprensa<br />
livre no Brasil, mas até então somente os assuntos de ordem política foram capazes de<br />
provocá-lo em cadeia. Na década de 1840, os conceitos sustentadores do “Eu”<br />
colocaram-se com a força misteriosa e impositiva característica do pronome agregado,<br />
transformando as razões filosóficas em motivos de disputa e de argumentações muitas<br />
vezes superficiais. No caso, superficialidade condizente com a vulgarização de matéria<br />
altamente produtiva de fantasmagoria.<br />
Alguns debates se tornaram famosos na época, como os vinculados pelo jornal<br />
baiano O crepúsculo, tendo como principal polemista João da Veiga Murici. Em<br />
novembro de 1845 veio a público fazendo o seguinte desafio:<br />
136 PAIM, Antônio In JUNQUEIRA, “Corrente Eclética na Bahia”, op.cit., p.13.