Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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Dizer que a nossa alma é o princípio vital, em virtude do qual o homem sente as<br />
moções(sic), que sofre o seu corpo; a existência dos objetos externos, e os compara um<br />
com os outros, é reduzir tudo à vitalidade, tudo à sensação, tudo aos objetos externos,<br />
tudo à matéria: é pregar o materialismo sem rebuço, sem cautela alguma. 131<br />
Na década de 1840, as publicações de divulgação do ecletismo espalharam-se<br />
pelo Brasil e, a partir de uma abordagem menos sensualista, colocaram à disposição de<br />
leigos o universo de uma cultura fantasmal mais espiritualizada, digamos assim. Na<br />
Bahia, Salustiano José Pedroza produziu dois volumes como material de apoio aos<br />
cursos ministrados no liceu, o Esboço de história de filosofia (1845) e o Compêndio de<br />
filosofia elementar(1846) 132 , versando sobre psicologia, lógica, moral e teodicéia; João<br />
da Veiga Murici contribuiria também com o Curso abreviado de filosofia(1846). 133 Em<br />
Recife, entre 1843 e 1844, Antônio Pedro de Figueiredo traduziu os três volumes do<br />
Curso de história da filosofia moderna, de Victor Cousin. 134 Na década 1850, ainda<br />
contando com a colaboração dos baianos, surgiu um dos livros sínteses do pensamento<br />
eclético no Brasil, o Investigações de Psicologia (1854), de Eduardo Ferreira França; e<br />
no <strong>Rio</strong> de Janeiro, outro escrito não menos importante, o Fatos do espírito<br />
humano(1858), de Domingos Gonçalves de Magalhães – pupilo de Alverne. Alguns<br />
outros fascículos, como o Curso de filosofia racional e moral, de Eutichio Pereira da<br />
Rocha, perderam-se. 135 Porém fontes bem mais inteiriças do comprometimento da<br />
intelectualidade brasileira com as questões levantadas pela filosofia eclética<br />
minimizaram as lacunas porventura deixadas com a perda de um ou outro exemplar.<br />
Jornais, revistas culturais e folhetos também compuseram o legado documental a que se<br />
pode acorrer para atestar o grau de assimilação dos conceitos fundadores da<br />
subjetividade moderna no Brasil.<br />
O processo de formação do ecletismo nacional compreendeu um período de<br />
pouco mais de dez anos, entre 1833 e 1848, sendo que na década de 1840 os princípios<br />
de sua doutrina disseminaram-se com tal rapidez que hoje se tornaram a base para se<br />
entender a formação do pensamento moderno brasileiro em suas inúmeras ramificações.<br />
131<br />
Jornal dos debates, 27 de maio de 1837, p.32.<br />
132<br />
PAIM, Antônio. O estudo do pensamento filosófico brasileiro, op. cit., p. 38.<br />
133<br />
JUNQUEIRA, op. cit. , p. 21.<br />
134<br />
Conforme prefácio escrito em ocasião da tradução do livro de Cousin no Brasil:“a maior parte das<br />
nações da Europa possuem o curso do Sr. V. Cousin traslado para as suas respectivas línguas; a América<br />
do Norte acaba de imitá-las; e somente o Brasil ainda não via nas suas bibliotecas este monumento de<br />
profunda reflexão e trabalho. É esta lacuna que acaba de encher felizmente o Sr. A.P. de Figueiredo, com<br />
a felicidade de um intérprete rigoroso, e com a correção de linguagem que semelhante versão reclamava”.<br />
LARA, op. cit., p.197.<br />
135<br />
PAIM, op. cit.,, p. 40.