Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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forçava o olhar luso-brasileiro a investigar os objetos sob um prisma mais condizente<br />
com as ciências empíricas. Conforme o testemunho de alguns contemporâneos, os<br />
ensinamentos ecléticos de Monte Alverne surgiram numa época em que o estudo<br />
pecava por uma abordagem tendente ao sensualismo, própria de um país adeqüando-se<br />
às esferas do iluminismo tardio. 129 Críticas ao estado do ensino filosófico no Brasil<br />
poderiam ser encontradas na Nitheroy, revista brasiliense, em ensaios publicados tanto<br />
por Gonçalves de Magalhães quanto por Pereira da Silva, em 1834. Este último, no<br />
Estudos sobre literatura, foi enfático em saudar a novidade do pensamento de Royer<br />
Collard e Victor Cousin, filósofos que “tentam reedificar todos os sistemas aparecidos<br />
no mundo, isto é, reunir o que há de bom em todos, recrutando as verdades, que neles se<br />
acham, e reunir em um só”. E completava:<br />
O Brasil ainda está atrasado no ensino de filosofia, o sistema de Condillac prevalece<br />
nas escolas, porém esperamos que as novas idéias, que todos os dias recebe ele da<br />
Europa, abram nova estrada à filosofia, e façam triunfar a verdade. 130<br />
No Jornal dos debates de 27 de maio de 1837 publicou-se uma crítica anônima<br />
sobre os Elementos de lógica escrito em vulgar, e apropriado para as escolas<br />
brasileiras, do senador José Saturnino da Costa Pereira, que ilustrou também as<br />
referências bibliográficas buscadas na montagem curricular das instituições de ensino<br />
do país. O resenhista chamava a atenção para a defasagem das informações ensinadas<br />
nas faculdades brasileiras, especialmente quando a matéria era filosofia, em que os<br />
trabalhos da escola escocesa, da crítica alemã e dos ecléticos franceses passavam longe<br />
dos resumos oferecidos aos estudantes. Apesar de confessar a urgência da reforma no<br />
material didático da Corte, fez uma análise negativa do livro então publicado por seu<br />
completo sensualismo, “não o de Locke, nem mesmo o de Condillac, mas o de<br />
Holbach”, prevalecer na leitura. Adiante, vaticinava:<br />
referência”. JUNQUEIRA, Celina (org). Textos didáticos do pensamento brasileiro (Vol. IX) – corrente<br />
eclética na Bahia. <strong>Rio</strong> de Janeiro: <strong>PUC</strong>/Conselho Federal de Cultura, 1979, p.17..<br />
129<br />
Segundo o primeiro biógrafo de Monte Alverne, o cônego Fernandes Pinheiro, nos seminários e<br />
universidades de então “reinava Condillac, representado por seu hábil intérprete Fr. José Policarpo de<br />
Santa Gertrudes, quando subiu Monte Alverne à cadeira do seminário de S.José. Numerosos adeptos<br />
constava a escola sensualista, que parecia dominar sem rival, e até nos claustros (...) Não trepidou o sábio<br />
franciscano em enristar a lança para combatê-la, esmagando com sua locução ardente as objeções de seus<br />
contrários, e mostrando-lhes o despenhadeiro do materialismo em que iriam precipitá-los suas doutrinas”.<br />
MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira – Vol II(1794-1855). São Paulo: Editora Cultrix,<br />
1977, p. 472.<br />
130<br />
SILVA, J.M. Pereira da. “Estudos sobre literatura”. In Nitheroy, Revista Brasiliense. São Paulo:<br />
Academia Paulista de Letras, 1978, p. 241.