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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Quem demonstrava toda sua empolgação com as conciliações sistêmicas de<br />

Victor Cousin era ninguém menos que Monte Alverne em seu Compêndio de filosofia.<br />

Depois de expor de maneira sucinta as interpenetrações entre as ficções em prosa e a<br />

teoria do conhecimento, a intimidade do padre mestre com o idealismo e o sensualismo<br />

ganharam um novo sentido, no caso, um sentido bem mais amplo do papel destas<br />

relações filosófico-literárias para a criação do “realismo filosófico”. Nomes citados<br />

como os de Descartes, Locke, Kant, pensadores importantes para a consagração de uma<br />

estética potencialmente afeita ao usufruto dos fantasmas, demonstraram que o<br />

franciscano adquiriu durante a vida o preparo intelectual para levar aos futuros literatos<br />

brasileiros o material básico para a construção de contos, romances e crônicas reflexivos<br />

das novas formas de representação advindas das trocas entre teoria do conhecimento e<br />

literatura.<br />

Mas a teoria da reflexão e da origem das idéias oferece o lado vulnerável do<br />

sensualismo. É o que demonstrou mr. Cousin na sua análise ou ensaio sobre o<br />

entendimento humano, e em outras obras. O sistema sublime de mr. Cousin apenas é<br />

conhecido no Brasil, e por desgraça, seus trabalhos filosóficos ainda não estão<br />

completos, e nem impressos, ou conhecidas aqui as suas obras posteriores. 123<br />

Difícil saber até que ponto Monte Alverne adquirira sua cultura filosófica lendo<br />

as obras canônicas da teoria do conhecimento diretamente da fonte ou se tudo não<br />

passou de leitura de segunda mão, conhecimento assimilado de compêndios que na<br />

época resumiam toda a história do pensamento em capítulos panorâmicos, como os do<br />

livro Curso de filosofia, de Victor Cousin, certamente uma das obras referidas<br />

subliminarmente pelo franciscano. 124 Estudos que se importaram com a reconstituição<br />

do acervo das bibliotecas (particulares, públicas e as que compunham o complexo de<br />

colégios e seminários religiosos) coloniais, gotejados durante a tese, mostraram que<br />

alguns dos autores divulgadores do empirismo filosófico poderiam ser encontrados sem<br />

dificuldade, sobretudo, em traduções francesas desde o início do século XIX.<br />

Entretanto, tais esmiuçamentos na recepção conceitual do realismo filosófico importam<br />

pouco aqui, pois, independentemente da qualidade na assimilação do sistema, nestes<br />

casos, o processo de vulgarização das idéias – seja sob a forma de leitura, seja sob a<br />

forma de crítica – já demonstrava uma condição avançada de absorção dos conceitos<br />

123 JAIME, op. cit., p.117.<br />

124 Bom lembrar que o livro síntese da filosofia de Victor Cousin poderia ser encontrado na época em que<br />

Alverne preparava a publicação de seu compêndio tanto em francês, em sua língua de origem, como em<br />

português. Na década de 1840, o pernambucano Antônio Pedro de Figueiredo fez sua tradução.

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