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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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192<br />

se destacaram na corte joanina, obtiveram com o Segundo Panegírico de São Pedro de<br />

Alcântara o documento oficial de óbito. A importância cultural das pregações perdera<br />

espaço, desde a independência do Brasil, para um projeto de inserção do país na<br />

realidade dos impressos. Dali por diante, a missão sonora do sermonista foi substituída<br />

pela grave introspecção do literato. Segundo Maria Renata da Cruz Duran,<br />

O Brasil oitocentista tinha poucos leitores e ainda menos espaços de reunião. A Igreja<br />

Católica, desde a colônia, havia desenvolvido um contato de cunho pedagógico com a<br />

população. A figura do padre e a sua voz entoada pelos sermões concentravam as<br />

atenções e a sermonística no Brasil desenvolveu-se sob estes parâmetros. A partir de<br />

1808 galgou maior destaque pelo fato de que D.João VI aproximou o gênero da casa<br />

real; com sua volta a Portugal, em 1822, a sermonística passou a perder o espaço<br />

conquistado. D. Pedro I não era adepto do gênero, nem tampouco era afeito às críticas<br />

que os pregadores haviam se acostumado a fazer, mas manteve alguns pregadores<br />

imperiais e as pompas desta fala até sua abdicação, em 1831. O período regencial no<br />

Brasil, entretanto, abrigou conflitos que ultrapassaram a capacidade agregadora de<br />

alguns sermonistas, a urgência pela criação e enraizamento de uma cultura nacional. 11<br />

Isto não quer dizer que os ouvidos brasileiros recebiam como incômodos<br />

desafinos as imagens grandiloqüentes ou as tergiversações solenes presentes na oratória<br />

da câmara e da tribuna. A retórica continuava inflando os discursos e, se a voz do padre,<br />

naquela altura, buliu com a sensibilidade de tantos, demonstrou não ter sido<br />

completamente esvaziada por um sentido completamente outro de escuta. Monte<br />

Alverne, em 1850, reinventava-se sem necessidade de forçar em demasiado o<br />

pensamento dos ouvintes para fora de sua própria constituição imaginativa. Falara do<br />

presente e o sentimento de assombro do público respondia em parte pela estranheza<br />

desta mesma presença duradoura, espiritual, arraigada na cultura a ponto de já dispensar<br />

as maquinações do corpo. Antes de Dom Pedro II visitar pessoalmente o claustro do<br />

Mosteiro de São Bento e insistir para que o frade abrisse mão de seu afastamento dos<br />

púlpitos e proferisse o sermão em homenagem ao dia de São Pedro de Alcântara 12 , o<br />

Padre Mestre já vinha sofrendo um processo de reabilitação diante de seus<br />

contemporâneos.<br />

Em 1847, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro o nomeou membro<br />

honorário, sendo seguido pela Sociedade Amante da Instrução, em 1848. Neste mesmo<br />

ano seria laureado numa emocionante solenidade promovida pelos jovens da Associação<br />

11<br />

DURAN, “Frei Francisco de Monte Alverne pregador imperial”, p. 1.<br />

12<br />

DURAN, “Frei Francisco do Monte Alverne e a sermonística no <strong>Rio</strong> de Janeiro de D. João VI”, pp.89-<br />

91.

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