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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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235<br />

no Crítica da faculdade de juízo algo que gravitava em torno da idéia inaugural contida<br />

no Tratado da natureza humana 118 :<br />

A faculdade da imaginação (enquanto faculdade de conhecimento produtiva) é mesmo<br />

muito poderosa na criação como que de uma outra natureza a partir da matéria que a<br />

natureza efetiva lhe dá.. Nós entretemo-nos com ela sempre que a experiência pareçanos<br />

demasiadamente trivial; também a remodelamos de bom grado, na verdade sempre<br />

ainda segundo leis analógicas, mas contudo também segundo princípios que se situam<br />

mais acima da razão ( e que nos são tão naturais como aqueles segundo os quais o<br />

entendimento apreende a natureza empírica); neste caso sentimos nossa liberdade da lei<br />

da asssociação ( a qual é inerente ao uso empírico daquela faculdade), de modo que<br />

segundo ela na verdade tomamos emprestado da natureza a matéria, a qual porém pode<br />

ser reelaborada por nós para algo diverso, a saber, para aquilo que ultrapassa a<br />

natureza. 119<br />

Pelo extremo policiamento do filósofo com relação ao uso dispensável das<br />

metáforas, os conceitos guardavam uma economia de meios expressivos que deixaram o<br />

essencial na superfície da escrita. A relação do objeto com as faculdades de<br />

conhecimento entre si, a complacência com que o casamento da forma se dava no<br />

interior do próprio homem, tornaram Kant um filósofo maduro para as questões que<br />

vinham sendo trabalhadas nas décadas e séculos anteriores. A tendência do pensamento<br />

posterior seria radicalizar o processo de subjetivização dos produtos estéticos e, sem<br />

dúvida, o associacionismo acanhado do Setecentos soltaria-se de vez no momento em<br />

que os românticos responsabilizaram a imaginação pela tutela de uma arte<br />

genuinamente livre. Isto transpareceu de maneira cristalina, por exemplo, no momento<br />

em que Schiller tentou definir o que seria o chiste:<br />

Mesmo as obras lúdicas da imaginação ainda mantêm sempre uma conexão entre si,<br />

mas o chiste surge isoladamente, de maneira totalmente inesperada e súbita, sem<br />

nenhuma relação com o que veio antes, tal como, por assim dizer, um trânsfuga, ou<br />

antes, como um relâmpago do mundo inconsciente, que sempre subsiste para nós junto<br />

ao mundo consciente, e dessa maneira expõe notavelmente o estado fragmentário de<br />

nossa consciência. É um vínculo e mescla de consciente e inconsciente. Sem nenhuma<br />

intenção e sem consciência, subitamente se descobre algo que não tem conexão alguma<br />

com o precedente; aquilo, porém, que nos é consciente nisso, está vinculado à maior<br />

clareza e lucidez. 120<br />

118 “Confesso livremente: Foi justamente a advertência de David Hume que pela primeira vez, há muitos<br />

anos, interrompeu minha modorra dogmática e deu minhas investigações no campo da filosofia<br />

especulativa uma direção inteiramente outra(...)” Kant apud SUZUKI, Márcio. O Gênio romântico. São<br />

Paulo: Iluminiras/Fapesp, 1998, p.43.<br />

119 KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 159.<br />

120 SUZUKI, op. cit., p. 201.

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