10.05.2013 Views

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

234<br />

levou a uma fragmentação ilustrativa dos desarranjos da mente. 117 As formas abriam-se<br />

para dimensões pouco encaixáveis na série contínua exigida pela literatura classicista.<br />

Assim, para cumprir a promessa de escrever conforme o dado através dos<br />

sentidos, os escritores passaram a romper a integridade da prosa ideal intencionando<br />

uma comunicação o mais ilustrativa daquelas preconizadas pelos tratados do<br />

entendimento humano. Para que os conteúdos da memória, as imagens oníricas e os<br />

limites de um ponto de vista centrado no sujeito ganhassem fórum de narrado, então,<br />

novos encaixes deveriam ser pensados no intuito de dar vazão ao fragmento suspenso da<br />

intimidade. Tarefa complexa, que exigia dos escritores a perícia em resgatar de dentro<br />

de si mesmos estes pedaços soltos do inconsciente e assimila-los organicamente às<br />

ações, sem comprometê-las demasiado com um sentido de dissolução radical. Nestes<br />

exercícios formais, a fantasmagoria foi ganhando credibilidade discursiva e<br />

configurando sua expressividade hesitante, deslocada, canonizada pelos recursos<br />

ficcionais modernos.<br />

Levando-se em conta a preocupação evidente dos teóricos do conhecimento em<br />

manter a imagem o maior tempo possível no intervalo existente entre o objeto e a<br />

sensação imediata, resulta falso responsabiliza-los por uma consciente ruptura com os<br />

longevos conselhos aristotélicos. Mas, ao contrário dos antigos filósofos e oradores, ao<br />

tentar estabelecer os princípios associativos que sustentavam o composto das idéias, os<br />

modos mistos, acabaram deixando para trás as amarras seguras das palavras com as<br />

coisas e ensejando os experimentos artísticos-filosóficos posteriormente concluídos pelo<br />

romantismo alemão. Depois que Hume, mais a título ilustrativo que propriamente<br />

conceitual – provavelmente inspirado pela leitura de Longino –, utilizou a conformidade<br />

da arte para espelhar os recursos da mente, as cadeias de imagens liberadas no contato<br />

especular deram ensejo aos conceitos abstratos do belo e do sublime, palavras caras ao<br />

ideário romântico. Kant, em vários momentos de seus escritos, prestou a devida<br />

referência ao filósofo escocês seja nominalmente, seja conceitualmente, desenvolvendo<br />

117 “Supomos que nossas percepções não são mais interrompidas, que preservam uma existência contínua<br />

e invariável, e que, por isso, são inteiramente idênticas. Mas as interrupções na aparição dessas<br />

percepções são aqui tão longas e freqüentes que é impossível desprezá-las; e como a aparição de uma<br />

percepção na mente e sua existência parecem à primeira vista exatamente a mesma coisa, pode-se duvidar<br />

de que algum dia sejamos capazes de concordar com uma contradição tão palpável e supor que uma<br />

percepção exista sem estar presente à mente. Para esclarecer essa questão e descobrir como a interrupção<br />

na aparição de uma percepção não implica necessariamente uma interrupção em sua existência, será<br />

conveniente tocar em alguns princípios que mais tarde teremos ocasião de explicar de maneira mais<br />

completa”. HUME, Tratado da natureza humana, op. cit., p. 239.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!