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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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românticas e ultra-românticas, nem por isto esteve fora das fronteiras temporais da<br />

fantasmagoria. Surgiu unido aos debates acerca das muitas teorias do conhecimento,<br />

anteriormente mostradas com variados exemplos. Em alguns momentos o autor inglês<br />

conteve a narrativa de tal forma nas probabilidades de uma percepção atenta, que as<br />

inquietações com relação ao sobrenatural nasceram integradas a um cotidiano<br />

aparentemente prosaico, contínuo em seu mobiliário, cômodos e objetos familiares,<br />

porém abertas com facilidade desconcertante às conexões mais fantásticas. Tomando<br />

para si a responsabilidade de conduzir a trama pelos interiores dos sobrados ingleses, o<br />

autor de Robinson Crusoé, após atravessar o umbral das portas, quebrava um pouco<br />

mais as expectativas com relação ao abarcamento visual de uma realidade homogênea –<br />

o que colaborou para evidenciar as zonas de sombra liberadas na confecção do<br />

“realismo filosófico”.<br />

Talvez por ser Daniel Defoe um dos baluartes do empirismo literário, sua<br />

incursão pelo sobrenatural tenha sido um tanto desprezada pelos estudos que<br />

procuraram dar uma resposta formal ao adventício do romance moderno. 105 Entretanto,<br />

antes mesmo da literatura gótica readmitir o maravilhoso no seio da verossimilhança,<br />

Defoe já compunha suas peças híbridas, com o diferencial de que o fazia imbuído de<br />

uma crença altamente positiva para a concretização dos fantasmas. Seu crédito na<br />

reencarnação das almas deu uma seriedade e uma contenção aos espectros muito<br />

diferenciada da pirotecnia artificiosa levada pelos criadores do gótico, tornando sua<br />

incursão místico-literária, por isto mesmo, empática até os dias de hoje. Num sentido<br />

muito particular, introduziu elementos que os contos fantásticos com forte teor<br />

psicológico – Henry James me vem à mente agora – usariam com muito mais proveito<br />

150 anos mais tarde.<br />

Na época em que Daniel Defoe publicava seus pequenos relatos esotéricos no<br />

The review, alguns livros dados como filosóficos pretendiam resgatar o crédito no<br />

invisível divulgando relatos de aparição de espíritos e outras criaturas sobreviventes por<br />

fora da cultura racionalista. 106 Na virada do século XVII para o XVIII, este tipo de<br />

105 “Defoe, cuja posição filosófica tem muito em comum com a dos empiristas ingleses do século XVII,<br />

expressou os diversos elementos do individualismo de modo mais completo que qualquer outro escritor<br />

antes dele, e sua obra apresenta uma demonstração única da relação entre individualismo em suas muitas<br />

formas e o surgimento do romance”. WATT, A ascenção do romance, p.57.<br />

106 “This is the most famous example of the ‘apparition narrative’, a genre that developed from the late<br />

seventeenth century in response to a criris in religious belief. The intention was to counteract the<br />

influence of the Hobbes and materialist philosophy, and persuade sceptics about the reality of the after<br />

life and divine providence, by detailed and carefully authenticated accounts os spectral visitations. Titles<br />

such as Saducismus Triumphatus: or, Full and Plain Evidence Concerning Witches and Apparitions

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