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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Longino entendeu que a obra de arte conseguia despertar e conduzir as paixões<br />

pelo simples fato de organizar as imagens num ritmo dado, ou seja, levava os atentos<br />

apreciadores a um estado sugerido por aparições em trânsito, conectando espacialidades<br />

e organizando ações de modo a pontuar as emoções. 91 Traduzido para o francês pelo<br />

escritor Nicolas de Boileau na segunda metade do século XVII, os conselhos com<br />

relação à melhor forma de concatenar as figuras para movimentar o prazer estético<br />

dispostos em Do sublime chegariam ao século XVIII para estimular o que Paul Ricoeur<br />

chamou de “taxonomia das figuras”. 92 Pois a tradução não poderia surgir em momento<br />

mais oportuno para que os fantasmas libertos nas especulações acerca do poder da<br />

eloqüência se incluíssem nos espelhamentos contínuos entre realidade e subjetividade,<br />

dando às realizações artísticas um apelo nascido da própria necessidade do<br />

entendimento em se deliciar ou se aterrar consigo mesmo. 93<br />

Aliás, toda a corrente de pensamento contemporânea sobre a teoria do discurso<br />

vai destacar, sobretudo, este período específico – na França, a partir da Escola de Port-<br />

Royal – pelo casamento desconcertante da retórica com a teoria do conhecimento 94 , que<br />

em longo prazo dissolveria as categorias fechadas do ato imitativo no movimento<br />

ilimitado das associações subjetivadas. A lógica dos conceitos, das categorias e dos<br />

raciocínios foi substituída por uma lógica das idéias, dos signos e dos juízos que<br />

funcionavam a partir de um dispositivo lingüístico cuja unidade era o quadro – substrato<br />

no qual se fixava a figura estética e gnosiológica – e o composto, a seqüência –<br />

91 “Bem, examinemos agora se não temos um outro meio de tornar os discursos sublimes. Uma vez que,<br />

por natureza, a todas as coisas se atam as partes que coexistem com a matéria que as constitui, não se<br />

imporia a nós encontrar a causa do sublime no fato de escolher sempre os elementos constitutivos<br />

essenciais e de ser capaz, articulando-os uns com os outros, de fazer um só corpo? Pois um atrai o ouvinte<br />

pela escolha dos motivos, o outro pela concentração dos motivos escolhidos”. LONGINO, op. cit., p. 71.<br />

92 RICOEUR, Paul. A metáfora viva. Portugal: Editora Rés, 1994, p. 234.<br />

93 “O renovado interesse pelas coisas antigas e ao surgimento dessa poesia viria se juntar ainda um<br />

terceiro veio – a teoria do sublime, que foi buscar em Longino os fundamentos para propor uma literatura<br />

que almejava o ilimitado e o grandioso, dando de ombros à perfeição técnica e à estrutura ordenada da<br />

poesia neoclássica. O culto ao sublime iria encontrar no conservador Edmund Burke seu teórico<br />

contemporâneo. A Philosophical Enquiry into the Origin four Ideas of the Sublime and Beatiful (1727) foi<br />

o tratado que forneceu as bases para estabelecer relações entre a literatura e o terror. Ali, Burke distingue<br />

dois tipos de sensações agradáveis: o primeiro prazer, paixão social, é nossa reação emocional ao belo; o<br />

segundo, paixão egoísta porque originária do nosso instinto de autopreservação, é o prazer que nasce dos<br />

sentimentos de dor e perigo, mesmo quando esses estão ausentes, e é a resposta que damos ao sublime”.<br />

VASCONCELOS, Sandra Guardini. Dez lições sobre o romance inglês do século XVIII. São Paulo:<br />

Boitempo, 2002, p. 121.<br />

94 “Dito de outra maneira, a lógica (e a teoria do conhecimento que lhe corresponde) é o fundamento<br />

primeiro, e a ‘arte de falar’ não tem outra finalidade senão a de se conformar às regras que a constituem,<br />

enquanto regras imanentes à própria ordem das essências. Nessa perspectiva, o bom uso da palavra é o de<br />

reconduzir o sujeito às verdades do mundo das essências, a “arte de falar” é constitutivamente uma<br />

pedagogia: a explicação torna-se assim aquilo pelo que se reabsorve o desencontro entre meu pensamento<br />

e os seres aos quais meu discurso se refere”. PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso – uma crítica à<br />

afirmação do óbvio. São Paulo: Editora Unicamp, 1997, p.45.

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