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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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218<br />

“Cadeia de pressentimento”, “instantes puramente psicológicos”... Difícil<br />

segurar as fontes até o momento oportuno, ainda mais diante de proposições tão<br />

afirmativas de uma consciência formal da fantasmagoria ou, pelo menos, da gestação<br />

desta consciência de unir as partes mediante princípios de eloqüência sentimental.<br />

Juntando-as ao ambiente favorável à recepção da filosofia do conhecimento, então, um<br />

mundo se abriu para as mais vertiginosas relações. Mas valerá a pena segurar a<br />

ansiedade sobre o processo brasileiro e voltar até a Europa do século XVII, no momento<br />

em que as obras consideradas inaugurais do romance moderno estavam sendo<br />

realizadas. Ou quem sabe voltar ainda mais no tempo para entender as idas e vindas do<br />

pensamento até o estabelecimento de noções favoráveis ao “realismo filosófico”.<br />

Observar alguns momentos de aproximação e distanciamento das estruturas narrativas<br />

com a “poética” fantasmagórica.<br />

4.3-Poética desviante<br />

Na Antigüidade Clássica observa-se que, mesmo havendo uma penetração até<br />

então inigualável nas manifestações do Ser, a ponte necessária a uma estética cognitiva<br />

ficou como missão para gerações bem posteriores. O desconhecimento das ficções em<br />

prosa – cujas primeiras notícias datam do século II d.C. – pelos filósofos fundadores do<br />

pensamento Ocidental, não influenciou diretamente as apreciações com relação a<br />

melhor forma de compor a diegese e a mimese, vislumbre dos princípios a partir dos<br />

quais o narrado encontrou sua inteligibilidade. 80 Platão colocou na boca de Sócrates o<br />

maior desprezo às imagens decaídas do pensar e a obra de arte, caso fizesse com que os<br />

espectros do Hades ou as paixões da alma ganhassem vida, deveria ser banidas da<br />

República. 81 Na Poética, mais antigo manual de composição dramática do Ocidente,<br />

80 “O fato é que existe uma produção em prosa na Grécia, mas apenas pouca a pouco se admitirá que<br />

possa ser entendida como literatura. Assim, tanto Aristóteles quanto a maioria dos teóricos posteriores<br />

concordam que Platão tem um estilo e uma grandeza literária comparáveis as de Homero; apesar disso, o<br />

diálogo platônico dificilmente se classificaria como ficção na Antigüidade, pertencendo, portanto, à esfera<br />

da literatura em sentido amplo, mas ficando fora do campo do que se entenderia como poético em sentido<br />

especializado”. BRANDÃO, Jacyntho Lins. A invenção do romance. Belo Horizonte: Editora UnB, 2005,<br />

p. 30.<br />

81 “Devemos também rejeitar todos os nomes odiosos ou medonhos a respeito dos lugares: ‘Cocito’,<br />

‘estígio’, ‘habitantes do inferno’, ‘espectros’ e outros da mesma espécie que causam arrepios em quem<br />

ouve. Talvez sejam úteis para outra finalidade, mas nós tememos que nossos guardiões, por causa de tais<br />

arrepios, fiquem com febre e enfraquecidos além da conta”. PLATÃO. A república. São Paulo: Nova<br />

Cultural, 1997, p. 76.

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