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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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problema estiver irmanado com a construção do romance e com as imagens organizadas<br />

para criar a verossimilhança perceptiva dos sujeitos ficcionais.<br />

Resta ainda destacar um conjunto teórico importante para a sistematização das<br />

imagens perceptivas, talvez o mais importante por todas as sugestões que criariam as<br />

bases para o grande levantamento crítico de Kant – especialmente nas observações<br />

contidas na Crítica a Faculdade do Juízo – e, conseqüentemente, para as discussões de<br />

ordem estética que mobilizariam toda a intelectualidade a partir daquele momento. No<br />

Tratado da natureza humana 67 e no Investigações sobre o entendimento humano 68 , os<br />

objetivos de David Hume não diferiam substancialmente das preocupações levantadas<br />

pioneiramente por Locke, mas ao dar uma maior atenção ao modo como as idéias se<br />

organizavam na mente, acabou impulsionando a teoria até aos recursos da imaginação<br />

criadora. Como observou Sartre em seu ensaio sobre o tema, o modelo do filósofo<br />

escocês promoveu um associonismo mecânico que se inseria na corrente cartesiana,<br />

certamente, mas dando a entender um princípio de inconsciência na atividade analógica<br />

posteriormente assumida com todas as letras pelo movimento romântico. 69<br />

Hume manteve a base da mecânica perceptiva de Locke mudando apenas sua<br />

terminologia. Onde o autor do Ensaio sobre o entendimento humano escreveu<br />

SENSAÇÃO e REFLEXÃO lia-se agora IMPRESSÃO e IDÉIA. Não se pode dizer que<br />

no primeiro livro as associações entre as idéias tenham sido de todo desprezadas, pois<br />

existiam apontamentos sobre as operações da mente, tais como COMPARAÇÃO e<br />

COMPOSIÇÃO, que se aproximaram muito de alguns tópicos levantados<br />

posteriormente pelo Tratado da natureza humana. Lendo comparativamente as duas<br />

obras, entretanto, nota-se que as preocupações desta última publicação com a<br />

capacidade analógica do pensamento constituiu o motivo norteador da pesquisa. Após<br />

serem introduzidas as três qualidades associativas capazes de criarem compostos –<br />

semelhança; contigüidade no tempo e no espaço; causa e efeito –, David Hume tratou de<br />

esmiuçar cada uma delas na sua extensa pesquisa sobre os princípios de ordenação do<br />

saber:<br />

67<br />

HUME, David. Tratado da natureza humana. São Paulo: Editora Unesp, 2001.<br />

68<br />

HUME, David. Ivestigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. São Paulo:<br />

Editora Unesp, 2004.<br />

69<br />

“Essa teoria supõe uma noção que, entretanto, não é nunca designada: a de inconsciente. As idéias não<br />

existem mais do que como objetos internos do pensamento e, no entanto, não são sempre conscientes (...)<br />

A existência da consciência se desvanece totalmente atrás de um mundo de objetos opacos que retiram,<br />

não se sabe de onde, uma espécie de fosforescência distribuída, aliás, caprichosamente e que não<br />

desempenha nenhum papel ativo”. SARTRE, Jean Paul. A imaginação. São Paulo: Difusão Européia do<br />

Livro, 1964, pp. 93-94.

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