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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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189<br />

outro orador sacro de seu tempo, os olhos, nervos e ânimo do padre mestre sucumbiram,<br />

levando-o a um longo período de reclusão voluntária. 4<br />

Nascido em 9 de agosto de 1784 na cidade do <strong>Rio</strong> de Janeiro, Monte Alverne<br />

depressa ingressou na vida religiosa e dali angariou fama de exímio manipulador das<br />

palavras. Formado em teologia pelo Convento Franciscano de São Paulo, assumiu<br />

oficialmente a pregação do lugar em 1810. Seus dons privilegiados fizeram com que<br />

ascendesse ao cargo mais desejado por aqueles que se dedicavam à oratória: tornou-se<br />

pregador régio em 17 de outubro de 1816, abandonando a função somente vinte anos<br />

mais tarde, devido à doença. 5 Ao contrário de filósofos e escritores para os quais a<br />

cegueira conferia ao semblante a paz de uma resignação totalmente espiritual, Alverne<br />

ressentiu-se profundamente de sua nova condição e, como um biógrafo descreveu, “fez<br />

da cela seu túmulo” 6 , ou, pelo menos, achou por bem reduzir ao mínimo suas aparições<br />

públicas. Pode-se deduzir a partir destas informações o grau de expectativa daqueles<br />

que se dirigiam à Capela Imperial para testemunharem seu retorno ao mundo dos vivos.<br />

Publicada em 22 de outubro daquele mesmo ano no Correio Mercantil, a crônica<br />

de Alencar soube aproveitar ao máximo o suspense de uma igreja lotada, cujas orações<br />

e cantos guardavam a dissonância de uma expectativa fervorosa e pia. O corpo<br />

executava automaticamente as práticas do rito e a mente clamava pela aparição do<br />

monge, então uma lenda viva. Alunos de Eloqüência do Colégio Pedro II aguardavam o<br />

que seria uma verdadeira Aula Magna. Na platéia, escritores como Joaquim Manuel de<br />

4<br />

“A doença que lhe atingiu os olhos é chamada de amaurose. A amaurose é o estágio máximo da<br />

cegueira, a pessoa não pode ver vultos, ter noção do claro e do escuro, de distância. Causada, na maioria<br />

das vezes, por problemas neurológicos ou psicológicos, também pode ser contraída congenitamente, neste<br />

caso, desde a infância detectam-se os primeiros estágios. Monte Alverne reclamava da fraqueza de sua<br />

visão em algumas cartas enviadas para o amigo Gonçalves de Magalhães, em meados de 1830.<br />

Psicológica? Neurológica? Não há como saber as causas desta doença em Monte Alverne, caso fosse uma<br />

doença congênita, faltar-nos-iam relatos de sua infância e de seus parentes. O que nos parece mais<br />

provável é que fosse uma doença neurológica ou psicológica, pois, além da cegueira, Monte Alverne<br />

reclamava da falta de lembrança, do cansaço, do nervosismo. Esgotado, dizia não ter forças para falar,<br />

para pensar ou mesmo para ouvir”. DURAN, Maria Renata da Cruz. “Frei Francisco de Monte Alverne,<br />

pregador imperial: roteiro para um novo estudo”. Revista Intellectus/Ano 3 Vol.II -2004. www.2.uerj.br/intellectus.<br />

Acessado em 26 de agosto de 2008.<br />

5<br />

Os padres da Capela Real tinham um status diferente dos outros religiosos, pois desde o alvará emitido<br />

em 15 de junho de 1808 por D. João VI concentrava maiores verbas, melhores condições para elaborar<br />

seu cerimonial, sendo ligada diretamente ao imperador. Para Maria Renata Cruz,“a igreja possuía<br />

importância preponderante na vida e no governo de D.João VI e a Capela Real era o coração de tal<br />

preponderância, o que conferia aos responsáveis por esse templo um enorme prestígio junto à sociedade<br />

carioca do primeiro quartel do século XIX”. DURAN, Maria Renata da Cruz. Frei Francisco do Monte<br />

Alverne e a sermonística no <strong>Rio</strong> de Janeiro de D. João VI. Dissertação de Mestrado referente ao<br />

programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, Campus<br />

de Franca, defendida em 29 de abril de 2005, pp. 49-50.<br />

6<br />

AZEVEDO, Moreira de. Ensaios biográficos. <strong>Rio</strong> de Janeiro: Livraria de Antônio Gonçalves Guimarães<br />

& Companhia, s/d, p. 10.

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