Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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percepção dos odores, dos sons, das imagens e do volume. No final, julgou ter<br />
construído um sistema filosófico contido nos próprios limites do organismo humano,<br />
sem precisar adentrar as nebulosas formas das idéias metafísicas:<br />
O princípio que determina o desenvolvimento de suas faculdades é simples; está<br />
encerrado nas próprias sensações: pois, sendo todas necessariamente agradáveis<br />
ou desagradáveis, a estátua tem interesse em gozar daquelas e se furtar a estas.<br />
(...) O juízo, a reflexão, os desejos, as paixões etc. não são mais do que a própria<br />
sensação que se transforma de diferentes maneiras. 45<br />
O projeto de fisiologismo da consciência humana contou com outros nomes<br />
importantes tais como LaMettrie – autor do opúsculo o Homem-máquina – e foi<br />
endossado por enciclopedistas como Diderot, Helvétius, D’Holbach, cujas teorias<br />
psicológicas privilegiavam em ampla maioria uma dinâmica física, mecânica, dos<br />
devaneios do cérebro. Com a virada do século, o projeto político e científico da<br />
ilustração saiu desacreditado pelo fracasso da Revolução Francesa. A visão de cabeças<br />
rolando parecera selar o fim das conexões imediatas entre a mente e o corpo. De uma<br />
certa forma, o materialismo ilustrado acabou responsabilizado pelo frio morticínio<br />
perpetuado pelas luzes e, neste contexto de revisão, surgiram as teorias ecléticas<br />
aproveitadas por Monte Alverne no seu Compêndio de Filosofia.<br />
Eu estou pois na obrigação filosófica de admitir que há em mim uma substância distinta<br />
da matéria, uma substância simples, única e indivisível, que percebe, que compara, julga<br />
e tem sentimento íntimo ou consciência de todas as suas percepções, de todos os seus<br />
juízos, e por isso mesmo o sentimento de sua própria individualidade, ou a sua própria<br />
existência. É esta substância que eu chamo minha alma; meu Eu. Desta sorte, eu<br />
descubro que sou formado de duas substâncias, muito diferentes, entre as quais não<br />
percebo alguma relação, que entretanto estão unidas ou parecem-me estar, que obram,<br />
ou parecem obrar reciprocamente uma sobre a outra, e cuja união constitui meu ser, ou<br />
meu estado de homem. 46<br />
Mais à frente entraremos no mérito destas idéias, destacando a forma que o<br />
ecletismo adentrou o Brasil e através da leitura de quais autores o pensamento acabou<br />
configurando a primeira corrente filosófica estruturada no país. Importante fixar neste<br />
momento a articulação de Monte Alverne com uma corrente de filosofia revisionista,<br />
eminentemente histórica, que em seus volumes enfocou sobejamente os sistemas que<br />
perscrutavam os desvãos da mente humana – ainda que fosse para criticar o empirismo<br />
45 CONDILLAC, op. cit., p. 76.<br />
46 ALVERNE, op. cit., p. 86.