Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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disse “e, na hipótese do inventor (Leibniz), os olhos e os ouvidos não têm nem podem<br />
alguma influência sobre a alma”. E dava seu veredicto final:<br />
Refutação: Este sistema das idéias inatas, que já foi muito acreditado, hoje é<br />
quase intimamente abandonado, não é admissível; porque não tem alguma<br />
prova que estabeleça, porque é só edificado sobre suposições fabulosas,<br />
insustentáveis, que o destroem e arruínam. 39<br />
Os simulacros que se descolavam dos corpos e atingiam os sentidos “os quais se<br />
exprimem nos diferentes órgãos que lhes são análogos”, adotados muitas vezes por<br />
Aristóteles para explicar a formação de imagens internas foi repudiado como “histórias<br />
dos feiticeiros”, algo próximo a assistir “as viagens noturnas das almas no sábado”. 40<br />
Até Maleblanche, que responsabilizou a capacidade de raciocínio humana à penetração<br />
da mente em uma região totalmente espiritual, divina, bem ao gosto da mentalidade<br />
cristã, teve o sistema ensimesmado:<br />
Refutação: todas as razões dadas por Maleblanche para apoiar, acreditar e<br />
estabelecer este sistema só tendem a provar que Deus é a causa eficiente das<br />
nossas idéias, o que poderia ser verdade, sem ser necessário ver tudo em Deus, e<br />
nas idéias. 41<br />
Monte Alverne indeferia seus julgamentos livremente, amalgamando aos poucos<br />
o pensamento de filósofos das mais diversas escolas a sua proposta de sistema. O<br />
direcionamento intelectual dado ao projeto dimanava do modo como selecionou<br />
determinados aspectos da filosofia universal e organizou o material no seu compêndio.<br />
Muitas vezes a leitura soou prejudicada por um conteúdo visivelmente rascunhado, em<br />
processo, dando a impressão de um produto final aleatório e, por isso mesmo, incapaz<br />
de uma estruturação interna judiciosa. Algo, no entanto, se poderia deduzir das<br />
intenções de Alverne no momento em que projetava a sua cartilha estudantil se<br />
observarmos a iniciativa integrada a um projeto intelectual de alta monta, ou seja, a<br />
divulgação do pensamento eclético no Brasil. Isto ficou evidente em inúmeros trechos<br />
em que afrontou o materialismo, o empirismo científico, para defender a<br />
transubstancialidade da alma:<br />
39<br />
ALVERNE, “Compêndio de filosofia”, p.98.<br />
40<br />
Idem, p. 108.<br />
41<br />
Ibidem, p. 110.