Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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metafísica e divulgando o ideário liberal aos pernambucanos. 32 <strong>Rio</strong> de Janeiro e São<br />
Paulo acompanharam de perto as transformações e se pode deduzir, principalmente pelo<br />
conteúdo das bibliotecas utilizadas pelos seminaristas do período, que Monte Alverne<br />
teve acesso ao que havia de mais moderno no pensamento europeu.<br />
Em 1810, no mesmo ano em que o Padre Mestre assumiu a pregação da capela,<br />
o Convento de São Francisco recebera a herança de uma excelente biblioteca reunida<br />
pelo bispo de Funchal, D. Luiz Rodrigues Vilares. 33 Mas não era a única a que ele<br />
poderia recorrer no momento em que se aprofundava nos segredos da filosofia. São<br />
Paulo também possuía a Biblioteca da Cúria, com um acervo de 4221 volumes. Locke,<br />
Condillac, Montesquieu e os enciclopedistas mantinham-se sobre as estantes numa<br />
época em que ainda representavam perigo para os governos absolutistas. 34 Segundo<br />
Borba de Moraes:<br />
Não resta dúvida que era uma biblioteca variada contendo as obras básicas sobre cada<br />
assunto. Não continha exclusivamente obras clássicas, mas também obras modernas<br />
sobre temas variados. Era uma coleção comparável à que teria um homem culto<br />
europeu. Nota-se uma predominância de autores franceses. Não é de se admirar: a<br />
língua francesa era universal no século XVIII e, em Portugal e no Brasil, seria a<br />
segunda língua de todo o homem culto até meados do século XX. A pobreza em obras<br />
inglesas e alemãs não é de estranhar, pois essas culturas só neste século penetraram em<br />
Portugal e no Brasil. Adam Smith foi lido através da tradução de Francisco Lisboa. Os<br />
nossos românticos devoraram Byron e Ossian, mas traduzidos do francês. 35<br />
Quando se diz “Monte Alverne entrou em contato com o pensamento moderno”,<br />
os recursos de um padre franciscano, cuja formação deu-se às margens da civilização<br />
Ocidental, estarão sendo levados em conta. Igualmente, o grau de penetração da análise<br />
deverá se contentar com as vastas zonas de silêncio deixadas por uma voz que se<br />
deslumbrou na centelha do presente, de um pensamento que se conteve nos domínios da<br />
oralidade. Algo, entretanto, escapou, muito pouco diante dos vinte anos dedicados ao<br />
ensino filosófico ministrado no Seminário São José. Nestas sobras escritas sobressaiu<br />
muito mais a vontade de um sábio de instruir seus jovens pupilos do que os recursos de<br />
um pensador disposto a construir um sistema filosófico coerente e original, mas o<br />
resultado não escapou à competência de Monte Alverne, para quem a filosofia era mais<br />
uma chama a ser passada do que consumida nos excessos da introspecção. Por isto, um<br />
32<br />
LARA, op. cit., pp. 24 – 31.<br />
33<br />
MORAES, Rubens Borba de. Livros e bibliotecas no Brasil Colonial. Brasília: Briquet de Lemos,<br />
2006, p. 18.<br />
34<br />
MORAES, op. cit., p. 20.<br />
35<br />
Idem, p. 21.