Capítulo 04.pdf - PUC Rio
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histeria e outros distúrbios psicológicos então misteriosos, coclamava-se a fala do<br />
sonâmbulo para que os fragmentos soltos da lembrança se unissem para além da vigília<br />
e libertassem a mente de uma dupla consciência alienada. Na França, na Inglaterra e na<br />
Alemanha métodos terapêuticos criados à margem da Medicina empírica começavam a<br />
ganhar credibilidade mediante a adesão de muitos estudiosos, sendo sondado, inclusive,<br />
por Pinel e outros renomados médicos europeus, para quem o magnetismo aguardava<br />
ainda uma explicação lógica. 271<br />
Sidnei José Cazeto, ao se enveredar pela constituição do inconsciente no século<br />
XIX, percebeu que por volta de 1845 e 1860 – período de publicação de Noite na<br />
taverna –, o sonho associou-se a outras formas patológicas de psiquismo, “próximo do<br />
delírio e da loucura (...), considerado como uma das possibilidades de regressão dos<br />
modos superiores do funcionamento mental”. 272 Inúmeros livros saíam intentando<br />
fornecer uma explicação racional para o estranho fenômeno em que homens e mulheres<br />
manifestavam um alheamento incompreensível para com o mundo exterior, sem com<br />
isso deixar de manter a consciência fixa nas imagens do pensamento. Entende-se<br />
agora, portanto, porque produtos artísticos como a ópera La sonnambula, de Bellini,<br />
estabeleciam-se rapidamente dentro do circuito operístico mundial, sendo encenada no<br />
Brasil com grande sucesso durante toda a metade do século XIX:<br />
RODOLFO<br />
Que vois-je?<br />
Serait-ce là cet épouvantable fantôme?<br />
Ah! Je ne trompe pas.<br />
C’est bien la villageoise qui naguère<br />
M’a paru si belle.<br />
AMINA<br />
Elvino!Elvino!<br />
RODOLFO<br />
Elle dort.<br />
AMINA<br />
Tu ne réponds pas?<br />
RODOLFO<br />
Elle est somnambule. 273<br />
271 CAZETO, op. cit., pp. 149-235.<br />
272 Idem., p.54.<br />
273 BELLINI, Vincenzo. La sonnambula. Libretto Felice Romani. Itália:Emi Records, 1997.