10.05.2013 Views

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

292<br />

explícita a uma cultura liberal e a entrada viciosa nos círculos do apadrinhamento cortês<br />

expunha os desajustes presentes na recepção dos produtos expressivos da modernidade<br />

e a condição paradoxal daqueles que, escrevendo muitas vezes em primeira pessoa,<br />

forçavam o verbo no sentido de conjugá-lo a interesses de uma coletividade<br />

escravocrata, enfunada na burocracia imperial. Os arroubos de uma personalidade<br />

marcante, especialmente no nível ficcional, deveriam ser cuidadosamente dosados de<br />

modo a não anular a conseqüente moralidade e os desligamentos momentâneos da<br />

psique amarrados novamente sobre o corretivo após a efêmera aparição inquietante. Por<br />

isto, as fantasmagorias, em grande parte das vezes, acabavam escondidas pela série de<br />

reservas amotinadas para impedir o seu fluxo inconstante e elíptico.<br />

Se levarmos adiante a busca de índices mais contrastados desta aparição<br />

espectral e de seus desdobramentos narrativos, devemos observar obras cujo<br />

acabamento soube melhor experimentar os desvios perceptivos causados na absorção do<br />

“realismo filosófico” pelas ficções em prosa brasileiras. Foi justamente na década de<br />

1850, no momento em que Joaquim Manuel de Macedo escrevia “eu digo as coisas<br />

como elas são; só existe uma coisa no mundo: é o Eu”, que se publicavam os escritos<br />

mais representativos da fantasmagoria. Um deles vinha à luz três anos após a morte de<br />

seu autor, justamente no ano de publicação de O sobrinho de meu tio: o livro de contos<br />

Noite na taverna, de Álvares de Azevedo.<br />

4.11-Noite na taverna<br />

Por mais que se tente ampliar o espectro do fantástico pela contextualização de<br />

obras aparentemente tão distantes do estilo, os olhos sempre acabam se voltando para<br />

aquela peça unanimemente festejada como o modelo do gênero no Brasil. Noite na<br />

taverna adquiriu um lugar de destaque nos esforços para o encontro de uma escritura<br />

que dignificasse os recursos fantasmais vastamente utilizados na Alemanha, na França,<br />

nos Estados Unidos, admitindo o país nas vertigens de imagens peregrinas do<br />

sobrenatural para o cientificismo próprio a modernidade. De Afrânio Peixoto 247 a<br />

247 “Noite na taverna é um conto fantástico e um conto perverso: aí duas influências explícitas citadas – de<br />

Byron, dominante na perversidade, de Hoffmann, na fantasia –, que não chega ao mistério, mas vai até a<br />

fatalidade, que assombra. Sem que se possa derivar, como fonte, há similitudes, precedências,<br />

concordâncias, com o maravilhoso do gênero, que fazem pensar em Gerardo de Nerval, Edgard Poe,<br />

Gautier, Merimée, Villiers de L´lisle Adam, que provavelmente uns, certamente outros, não conheceu ou

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!