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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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uma análise em profundidade do dado físico tem-se de ajustá-la, antes de qualquer<br />

interpretação objetiva, ao processo associativo da inteligência, compreender o<br />

mecanismo do entendimento presente no ato de pensar:<br />

Todo o conhecimento para o homem é necessariamente subjetivo, pois que ele se<br />

resume numa idéia e toda idéia não é senão o resultado da percepção de uma relação;<br />

fenômeno em que o homem é sujeito e a relação objeto (...). Mas porque a verdade<br />

humana não é absoluta nem por isso deixa de ser revestida de toda a certeza possível,<br />

pois que o sujeito (homem) é o elemento indispensável da criação da idéia mesma de<br />

uma certeza qualquer, e a idéia de verdade é alguma coisa puramente humana. 243<br />

Macedo, assim como todos os escritores românticos brasileiros, teve a<br />

oportunidade de absorver diretamente as lições dadas nestes embates ideológicos –<br />

muitas vezes sendo eles mesmos autores dos inúmeros ensaios, compêndios e tratados<br />

médico-filosóficos – para com isto criar um mundo simpático à própria percepção dos<br />

leitores, mantendo-os atentos com as mudanças de capítulos, a inserção de sonhos, de<br />

lembranças, de delírios, fomentando o cérebro das personagens com a pulsação do<br />

discurso e o dos leitores com o ruminar de uma linguagem espelhada de seu próprio<br />

pensamento. Portanto, o grande desenvolvimento obtido pela ficção em prosa na década<br />

de 1850 veio corresponder a um respectivo domínio teórico das formulações do<br />

“realismo filosófico”, presente em livros como Investigações em psicologia e Fatos do<br />

espírito humano, ambos material farto na apresentação das mais variadas faculdades da<br />

mente e, conseqüentemente, pesquisa útil tanto para a composição psíquica das<br />

personagens como para a notação de um discurso respeitoso ao andar involuntário da<br />

imaginação. Claramente se percebia um avanço na concepção sintagmática, a formatura<br />

de um agregado ficcional muito mais orgânico e artisticamente muito mais bem acabado<br />

tanto nos contos como nos romances realizados neste contexto de interseção<br />

fantasmagórica. Sentia-se a narrativa distender-se para que os fragmentos da percepção<br />

se encaixassem com justeza e refletissem com verossimilhança o andamento, por vezes<br />

incontrolável, do processo de cognição.<br />

Não há pois dúvida alguma, que no homem existem dois princípios, dois seres, um que<br />

é o eu, causador ou participante, e outro que não é o eu, que é nosso corpo, onde se<br />

efetuam fenômenos de que o eu não participa e fenômenos de que o eu participa. 244<br />

243 LARA, op. cit., p.266.<br />

244 FRANÇA, op. cit., p.49.

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