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A IDENTIDADE<br />
COMO OPÇÃO,<br />
NÃO DESTINO<br />
NEM OBRIGAÇÃO<br />
ALONE<br />
TOGETHER...<br />
se uma brand, um logo, uma marca e a promovem enviando mensagens<br />
assinadas à imprensa. Ao estilo das siglas que conhecemos, FBI, FMI,<br />
temos agora no Brasil o PCC, esse “primeiro comando da capital” de um<br />
banditismo rasteiro e violento que se quer organizar assim como outros<br />
mais sofisticados o fazem 31 . Não há dúvida, este é o tempo das<br />
identidades em inflação.<br />
Um novo entendimento conceitual da questão identitária se formou.<br />
O que parecia um destino, uma inevitabilidade — e um fardo, embora<br />
isto pouco se admitisse e se admita — tornou-se opção. As identidades,<br />
que eram achadas ou outorgadas, passaram a ser construídas. As<br />
identidades, que eram <strong>def</strong>initivas, tornaram-se temporárias, o que<br />
significa que uma mesma pessoa e um grupo, ao longo de suas<br />
existências, podem ter mais de uma identidade, da política à sexual —<br />
e, inclusive, para os que têm dinheiro, mais de uma identidade étnica,<br />
como demonstrou Michael Jackson, um dos personagens culturais mais<br />
vilipendiados da história recente por sua decisão de não ficar “em seu<br />
lugar”, com isso irritando tanto os brancos que se viram invadidos em<br />
sua praia exclusiva pelo Outro quanto os negros que não aceitaram a<br />
“traição” à “classe” ou que se sentiram diminuídos pela ousadia que não<br />
puderam imitar. Tanto mais quanto o homem é cada vez mais um ser<br />
de cultura, não da natura — portanto, um ser que se <strong>def</strong>ine e se refaz,<br />
não um dado imutável.<br />
Alguns insistem que a falta de <strong>def</strong>inição precisa de uma identidade<br />
é no mínimo fonte de tensão para um indivíduo, grupo ou povo. Pior<br />
do que ter uma identidade fixa seria, por vezes se afirma, não ter<br />
identidade alguma. É generalizada a noção de que não há povo, nem<br />
indivíduo, para o qual alguma forma <strong>def</strong>inida de distinção entre o<br />
eu e o outro não se estabeleça, o que se faria com a afirmação de<br />
uma identidade. E esse processo de distinção seria fundamental para<br />
o autoconhecimento, nunca desligado da necessidade de<br />
reconhecimento pelo outro. E assim será, acaso. Mas que essa<br />
identidade deva permanecer fixa, é outro assunto. E este é o ponto.<br />
Essas identidades todas vieram à luz para várias coisas. Umas<br />
vieram para continuar fazendo o que as identidades duras sempre<br />
fizeram: excluir. São as identidades sociófugas, as que se isolam das<br />
outras e deixam de fora os que não são “do pedaço” ou, mais trágico, os<br />
infiéis. Outras são identidades de inclusão, identidades sociópetas e<br />
outras, ainda, acaso as mais interessantes, são as que não se preocupam<br />
com incluir ou excluir e se animam apenas pela ideia de estar ao lado ou,<br />
31 Por certo, a Máfia ou a Cosa Nostra tinham também sua identidade corporativa; a adoção<br />
de uma sigla feita de iniciais, porém, é sem dúvida mais contemporânea...<br />
64 A <strong>CULTURA</strong> E <strong>SEU</strong> <strong>CONTRÁRIO</strong>